Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

• o REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS r.amente popular de nosso meio - são figuras que emergem de sua vida, Senhor Académico, sínteses de sua cosmovisão e de sua auto– •his~ória. Uma das mais curiosas particularidades de suas peças, Senhor Acadêmico, e que Hustra o caráter essencialmente popular de seu tea1ro, é a presenç:1 ostensiva e participante, nêle, de prostitutas. A exceção de "Sevc,:a Romana", que é a glorificação da fidelidade: n rntrimonial contra o adultério, são prostitutas que desempenham as tarefas salvíficas e redentoras. A Ludovina, do "Nó", é quem trnz a solução para os problemas do Padre Elias e possibilita a êste obtPr, do Coronel Mrmace, as verbas de auxilio à paroquia. Em "Lei é Lei", é a pros tituta que socorre o mendigo, o beija como filha e ~e opõe ao despotismo desumano do policial. Em "O Herói do Seringa!", Andreza é quem ensejo. o único ato de bondade do Coronel Polidoro, embora ê~,;e ato seja a aprovação da poliandria. Dir-se-ia que, nos dramas dessas vidas, a salvação vem através de instrumen– tos humanos os ma;:; modestos e desprezíveis, saídos do povo para benefício do povo, s<>m recurso às fórmulas e aos esquemas em que as elites e as aristOLracias acreditam em vão. E sobretudo, Senhor Acadêmico, as prostitutas de suas peças não êsses demônios do ~ensualidade e volúpia descritos por um moralismo decadente para. nos livrar das tentaçoes, são sêres populares, e sua presença em seu teat.ro, Senhor Acadêmico, tem a finalidade de lembrar que Jesus não condenou a mulher adúltera, como se lê no Evangelho que o Padre Elias recita no inicio do terceiro ato do "Nó". A sua presença em seu teatro é w11a denúncia contra a imagem deformada que, parn fins de discrirnmação moral e religiosa, delas faz e veicula a hip,crisia burguesa. · No parecer qt!e elaborei, como membro da comissão que _julgou ns suas obras, Senhor Acadêmico, a quando de sua candidatura à Cadeira n.º 2, tive 0:::asião de escrever o seguinte : NAZARENO TOURINHO é o homem que fala para o povo usando a linguagem do povo. Recusá-lo em nosso meio seria r ecusar a.s platéias que enchem seu teatro, que entendem a sua mensagem, que inspiram as suas peças e que o aplaudem de pé e vibram com o realismo por vêzes brutal de seus diálogos. Recusá-lo seria recusar o Povo, e recusar 0 Povo seria um suicídio mental perante nossa civilização de massas, e um refugiar-se medroso na serenidade estag– nada do anacronismo e da fossilização. E nenhuma aristocracia do E:·spírito poderia justificar tal recusa. · Como vê, Senhor Acadêmico, foi o povo que julgou a sua obra e é o povo que o c'Jroa neste momento, através do. Academia . 125 ·-

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