Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Pode agora V. . Exa. perfeitamente compreender a minha afir r.,ação de que a vida lilerária de V. Exa. é um nó de quatro pernas. Permita.me apenas examinar, Senhor Acadêmico, uma a uma, as quatro pernas dêsse nó que o amarraram à Academia e que signi· ncam as profundas vinculações de V. Exa. ao seu roteiro literário, as 1 aizes penetrant;,s que brotam de sua alma e buscam o solo fe• cundo que alimenta. a sua atividade intelectual e acadêmica. As f"{t:atro pernas do nó são as que enumero a seguir. Primeira perna do nó - o POVO v. Exa. é e se proclama um homem do povo. E homem do povo não apenas pelas suas origens humildes, pelos seus ásperos e sofridos anos de a•lolescência, pelo seu aprendizado intensivo dm; lições mais autêntica da Vida assimiladas no banco do marceneiro de que foi V. Exa. aprendiz, ou· com cobrador de ônibus, ou como caixeiro de loja de ferragens ou como propagandista de remédios ou mesmo marítimo, - que todos foram ofícios que V. Bxa. desempe• nhou, marcados de pobreza, e que agora se transformam em degraus que medem a altura de sua ascensão até as culminâncias acadêmicas. Mas homem do povo V. Exa. o é sobretudo porque amou o povo, sentiu o povo, viveu o povo e aprendeu-lhe o gõsto, a linguagem, os anseios e as paixões, as dores e os desespêros- A ausência de grau nniversitário, que se esconde sob a denominação de autodidata, qu. \ ". Exa. se atribui no currículo que apresentou a esta Academia, nüo poderá jamais constrangê•lo, Senhor Acadêmico Nazareno Tou– rinho, pois quando houver neste pais uma verdadeira Universidade do Povo, V. Exa. Ih•! será, sem dúvida alguma, um c 1 os primeiros e mais qualificados doutores "honoris causa". Foi o povo qm: o marcou em definitivo, Senhor Acadêmico. para o vocação liter ária e foi o povo que determinou e condicionou a sua predestinação para o texto cênico. Nenhum outro gênero po– deria seduzí-lo mais elo que o teatro, justamente pelo seu caráter dialogal e vivencial, e através dêle pode v . E;xa. recriar os perso– nagens que conheceu na vida real, e por isso é que o teatro de V. Exa., antes de ser um diálogo com o público, é um diálogo intimo, seu com a sua vida, seu com o seu mundo, seu com a sua cons– ciência. Todos os personagens de suas peças são figuras populares, incluindo os seus herois, cuja dramaticidade cósmica não vai além das dimensões do cotidiano. O próprio Padre Elias, figura central do "Nó ele Quatro Pernas" e que deve ter feito estudos teológicos r:o seminário, é im'lginado como "um mulato de cabelo pixaim" e tôda a sua fala é linguagem eminentemente popular, para escândalo ele seus paroquianos. O Mendigo, de "Lei é lei e está acabado"; 0 Guaribão, de "0 Harói do Seringa!"; Severa Romana, a santa tlpi- - 124 - • t

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