Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA- DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E no entanto êsses nomes enobreceram o teatro universal e o teatro brasíle1ro. Há o caso de Victorien Sardou, que em 1854 foi duramente "aiado, abandonou desgostoso a arte cênica, e depois voltando a ela. persomucou-se como um verdadeiro homem de teatro, pela mecânica ele suas peças. , Há o caso de O'Neill, que depois de ganhar o Prêmio Nobel, em 1936, ama rgou o ostracismo, morreu na obscuridade e, três anos após seu falecimento, a montagem de suas peças deu-lhe tamanha consa– gração que· os textos inferiores por êle deixados subiram ao palco sob os maiores louvores. Em teatro, pois, tudo é muito relativo, tanto no que se refere eo mérito de um autor, seu sucesso ou fracasso, quanto no que tange à avaliação técnica de suas peças. Sófocles criticou Ésquilo, assegurando que êle fazia o que era bom mas não sabia o que fazia. Por sua vez Sófocles igualmente foi criticado, tendo os seus analistas observado que "Édipo em Colono", um belo canto lírico, é trabalho mal construído no que diz respeito à verossimilhança, com total desprêzo ao tempo e ao espaço. Shakespeare, que apesar de ter surgido na cena inglesa em lfJ52 só teve sua genialidade proclamada em fins do século XVIII, incorreu no mesmo êrro colocando um põrto de mar em um pais interior, alguém descobriu, mencionando a Boêmia. Aliás , diz-se que "ários .temas explorados por Shakespeare foram copiados na íntegra das obras de Cíntio, aduzindo-se que, de certo modo, "Romeu e Ju– lieta" reproduz "Hadriana". Os humanistas idólatras de Ben Johnson acusaram Shakespeare de .irregular, assegurando que êle menospre– zava as regras, a unidade e a decência do drama. Até Voltaire, que revelou Shakespeare aos franceses, depois o .chamou de bárbaro. Quando Moliere, após freqüentes fracassos, escreveu "As Pre– ciosas Ridículas", e obteve estrondoso sucesso, cuidou de aperfeiçoar 0 estilo e então alguns especialistas em dramaturgia, com Semaise à fi ente, passaram a classificá-lo como ignorante. Em nosso pais já foram as peças de Martins Pena depreciadas, imputando-se-lhes primarismo por abusarem de recursos fáceis, tais como esconderijos, cartas, disfarces, etc. Tudo é muito relativo, repito, na esfera da arte cênica, e porisso me abstenho, cautelosamente e não por falsa ou verdadeira modéstia, de:. avaliar a minha obra. Ela é conhecida e acaba de ser julgada, ta lvez com benevolência, por êste Silogeu. Aos 34 anos não atingi a glória, como Racine, mas ao que parece consegui me afirmar como escritor, o que não é grande coisa porém para mim é o bastante, - 118 - • • o o

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