Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS como era chamado. Já cego, embora em próspera situação como senhor de engenho, o médico pediu ao pai de Sebastião que lhe confiasse o rapaz. :este lhe faria a leitura dos livros amados e em troca aprenderia, também, muitas coisas que lhe pudese ensinar e que úteis lhe seriam no futuro. As~•im foi e de quanto serviu ! Sebastião, depois de morto o pai, trocou a banca de carpina por uma enciclopédia. Foi para Curu– ru:pú, empregou-se no comércio. Aos 18 anos, em 1896, mudou-se para Bragança, o grande entrepôsto comercial entre Belém e S. Luís. Aí, primeiro foi tipógrafo. E do manuseio dos tipos, das leituras conti– nuadas nasceu sua iniciação na Poesia. Afinal, depois de nõvo em– prêgo, estabeleceu-ce fundando a LOJA TUPI, que dirigiu até seus últimos dias. Casando-se Sebastião aos 29 anos, em 1903, com Maria do Céu Bordallo, Armando foi seu segundo filho, tendo a primogénita, Ina. morrido com poucos meses de idade. A LOJA TUPI, cujo nome valeu ao dono o ser conhecido como Sebastião Tupi, foi o primeiro pôsto de observação aberto à curiosi– dade infantil do futuro médico, antropólogo e folclorista bragantino ·que é o Acadêmico Armando Bordallo da Silva. . Sôbre o balcão da. loja o pequeno aprendeu a engatinhar, via chegar das praia ou dos campos homens cujas maneiras simples estendiam à sua alma de criança as primeiras pontes de comunicabilidade, de entendimento, de simpatia, que depois se haveriam de florescer na dedicação de seus estudos daquela gente. Sebastião Tupi apuzera acima da porta de seu escritório, na loja, um grande quadro a óleo de um índio Tupi, de tanga e cocar, empunhando na mão esquerda arco e flexa. Às pessoas que, ali en– trando pela primeira vez, lhe indagavam quem era aquêle índio, res– pondia, por gracejo, ser o retrato de seu avô. Também alí havia, presente de algum amigo da região praian,1, a carcassa da cabeça de uma tintureira, o feroz tubarão "Galeocardc Arcticus", com as quatro carreiras de afiados dentes. Se lhe per• ~tavam que era aquilo, Sebastião, brincalhão por natureza, dizia ser a caveira do cavalo de seu avô. Ora, o pequeno, de cima de seu balcão, com a vivacidade atenta de um tetéo a quanto se passava ou se dizia na loja, na primeira oportunidade que lh surgiu, a uma pergunta sôbre o troféu, antes que respondesse o pai, perssuroso adiantou : "Isso é a cabeça do cavalo de meu bisavô que ali está". E apontou, orgulhoso, para o c 1 uadro do índio. · Dessas r emembranças, onde ouvia conversas favoráveis aos índios brasileiros; a provável descendência de uma tetravó indígena, -96- •
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