Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

AURIFÊMEA Acadêmico Cândido Marinho da Rocha Destravada a língua, Meia-Língua nos seguimentos foi dizendo : - Antes da França, depois da França. França, aurifêmea em côres do Aruaná, marcava os ciclos testiculares do Molecão, pois mulher alguma no seu considerar soubera tão bem respeitar e cultuar os ritos fállcos, embora magnüica e oferecidamente nulípara. Os dias antes e os dias depois. A canseira da vida e a doçura da vida. Os dias antes eram as lutas, as desordens, os negrumes dos dias, das noites, trevas de solidão em beiradas e baixadas dos rios corredores. Eram constantes "arrastas" nos garimpas e nas mulheres, eram visões entre fugas e esperanças de bamburrar um dia, achar u'a "mancha" e em seis dias extrair trezentos contos de réis. Encontrar uma "pedra", uma "indústria" ou até mesmo os "gibis" miudinhos, faiscar e, quem sabe, levantar nas mãos trêmulas o diamante famoso. Lembrar o leito do médico míneiro, de Belo-Horizonte, de lá vindo moço viçoso e ali na cidade de Marabá, alquebrado por sezões e visões, modorrar no final dos delírios de bamburrar ! Os barracos sem paredes de Jacun– ciázinho, onde em rêdes podres, carnes podres de homens podres mais apodreciam, sem reservas e sem pudor. Apodreciam na miséria dos falhados, no paludismo, no alcoolismo, nos bubões, na difteria, na sífilis, na tuberculose, na fome, na humildade. O barraco, bem à margem do caprichoso Tocantins, permitia aos molambos ouvirem na morte lenta o coaxar da saparia, o canto alegre dos que, em festas, celebravam o "bamburro", os gemidos dos jogadores esfaqueados na vingança da "derrota" e o esganiçamento do mulherio na euforia .da tuberculose não diagnosticada, misturada com cachaça. O inferno era, pois, antes da Aruaná. No depois, foram céus abertos, foram feridas sarando, chôros de amor, gritos de amor, urros de amor. Era o negro cantando sem imaginar nos passados sem sons e sem música. E era a música dos quadris-ancas-nadadeiras,barbatanas,peitorais, era o rabo-cauda belo e ondulante de Aruaná no lago - a casa - que com sangue Molecão -92- (J t

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