Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS VERíSSIMO, com o qual mantivera acesa contenda - declarou poucos ·dlas antes de falecer - segundo depoimento do poeta ALBERTO DE OLIVEIRA - que considerava o escritor paraense "um homem digno do maior respeito, pelo saber, pelo talento, pelo estudo e pelo tra– balho". A sua biografia é o atestado eloqüente de uma existência inteL ~amente devotada ao magistério, às entidades culturais, ao manuseio de compêndios e à elaboração de livros. A "História da Literatura Braslieira", de JOSÉ VERfSSIMO, publicada em 1917, "é o mais completo documento de nossa evolução Hierária", assevera ALFREDO PUJOL. O nosso emérito conterrâneo compreendia a literatura como arte literária. O escrito com o propósito ou a intuição dessa arte, isto é, com os artifícios da invenção e de composição que a constituem -· dizia - é literatura. Essa concepção, aliás, está em consonância com o delineamento de TRISTÃO DE ATAfDE - o insigne critico contemporâneo - para quem a literatura é um dos sinais caracte– risticos da dignidade humana e da elevação do homem, a qual há cie sempre conservar, a despeito de tôdas as decadências, essa marca indelével de aristocracia no verdadeiro sentido do vocábulo. A detur– pação da idéia de aristocracia, típica de nossos tempos - salienta o notável autor de "A Estética Literária" - é conseqüência dos próprios erros das aristocracias, em face de cuja apreciação ou é a literatura uma elevação do homem ou não é literatura. JOSÉ VERfSSIMO, que votara carinhosa amizade a GRAÇA ARANHA e MACHADO DE ASSIS, "amava e respeitava a profissão de escrií.or e parecia ter tomado a si a tarefa de comunicar êsse amor t> respeito, interpretando a prestigiando os autores dignos e comba– tendo os intrujões, os falseadores da nobreza do ofício que representa a mais alta distinção da criatura humana". Profw1damente ilustrado e integralmente honesto, traçou sua própria biografia numa síntese reveladora da segurança de seu critério, publicada no "Dicionário Biográfico da Sra. Viscondessa de Caval– cante", em 25 de julho de 1897. MÁRIO DE ANDRADE que com êle convivera e que, em 1916, por ocasião da morte do grande crítico nortista, lhe exaltara a perso, nalidade num magnífico estudo publicado na "Revista do Brasil" (ano l, n.• 2, vol. 1), afirmou: "Era curioso e estranho o concêrto que nêle havia entre a confiança na vontade e no poder moral dos homens e o ceticismo absoluto, que não escondia, que não lhe pesava e de que fazia garbo em matéria de crença religiosa". O preclaro autor de "Macunaíma" divisou três fases na carreira literária de JOSÉ VERíSSIMO : na primeira, "~ra o nacionalismo que o orientava no estudo dos autores brasileiros; na segunda, "distin- -90- Q . o.
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