Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS um dos mais desabusados demolidores de reputações politicas e literárias no Brasil. José Veríssimo foi, nos últimos tempos, um dos seus alvos prediletos, talvez por ter divergido da sua autoridade na criticã literária, de cujo primado Silvio se orgu– lhava, considerando~se seu verdadeiro renovador no Brasil. Por mais de uma vez·, reivindicou êsse direito que hoje ninguém lhe contesta, proclamando enfaticamente: por disposição natu– ral do espírito atirei-me à crítica literária, cuja renovação em nosso país, digo-o sem medo de contestação, nasceu dos meus primeiros escritos publicados em 1870. Noutro lanço de um dos seus livros (Estüdos de Fil. de Dir. pág. VII) ia mais longe, exigindÕ para si a prioridade na transformação da clitica lite– rária pela ciencia, da poesia lírica pela nova intuição filosófica, do estudo do folclore pelos modernos processos e da história espiritual brasileira, pelo critério etn_ográfico. Em todos êsses setores da cultura, ninguem hoje poderá negar a influência preponderante e singular que Sílvio exer– ceu no pensamento nacional. Sua História da Literatura Bra– sileira é bem uma história natural das nossas letras como êle mesmo o dissera, pois não só abrange e estuda os ciclos e as tendências literárias do nosso povo, como põe em equação, os problemas de história, raça, meio, política, influência religiosa e econômica, numa visada larga e esquernática da nossa forma– ção etnica e política, que não perde nada, em paralelo, com as melhores páginas dos nossos contemporâneos Gilberto Freire, Oliveira Viana, Pandiá Calógeras, dentre os maiores. No pró– logo da primeira edição dessa obra monumental, Silvio deixava entrever já, a tristeza de não ser compreendido pelos escritores de seu tempo ao escrever: este livro é um livro de amôr feito por um homem que sente ha vinte anos sôbre o coração o peso do ódio que lhe tem sido votado em sua pátria. Injusto revela-se Tristão de Ataide (Estudos 5ª série, pág. 13) , ao afirmar que Tobias e Silvio, com seu naturalismo materialista ou agnóstico envenenaram a sua geração e a de Graça Aranha, creando o ceticismo decadente da geração que os precedeu e a dissolução individualista da geração atual. Longe disso, acredito, não exagerar afirmando que Sil– vio em vários setores do pensamento brasileiro, creou um ambi– ente propicio ~o. ~vre_ exame, à discussão de problemas que já não eram de c1vilizaçao mas de cultura, ao gosto pela pesquisa e pelo documento, sob a luz da critica, como ciência e, destruin– do tabús e arraigados preconceitos pseudo-científicos insuflou vida nova e um sentido mais alto, na mentalidade não só dos seus contemporâneos, como da geração tumultuária e desvai– rada, que surgiu para a luta, logo depois da guerra de 14. -87-

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