Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA p ARAENSE DE LETRAS raças tristes a que aludia exatamente, um dos mais altos repre– sentantes desse lirismo, que tanto irritava o grande sergipano. Porque a verdade é que nós todos somos românticos, poetas, ro– mancistas, ensaístas, oradores, críticos, os mais objetivistas e impessoais, todos nós temos o nosso fundo romântico que em certos momentos de produção intelectual, se deixa de repente entremostrar e mesmo descobrir. De quando em vez, nos deixamos arrebatar por essas forças inconcientes da alma, que arrancam a máscara com que cobrimos quasi sempre os pre– conceitos e as rebeldias, senão as aparencias de um impassivi– lidade mentirosa e artificial. E ai de nós se não fôra assim, se não tivessemos essas fôrças, se não pudessemos nas horas mais terríveis da nossa luta, da nossa "agonia", fugir para o irreal onde a imaginação dá largas aos seus vôos em busca da inatin– gida perfeição e de eterna beleza. Acredito por isso com Goe· the que devemos elevar o real, à altura da poesia e ninguém melhor exprimiu êsse sentimento que hoje diríamos de sublima– ção ou de fuga, para empregar a terminologia freudiana, de que o próprio creador de Werther, ao celebrar num dos seus mais lindos liedes, ..:_ o tocador de harpa - a sublimidade do sofrimento: quem nunca comeu o pão .embebido no pranto, quem nunca chorou em noites angustiosas, sentado no leito, êsse não vos conhece, ó poderes celestes. Wer nie sein Brot mit Tránen az, Wer nie die Kammerwollen náchte Aufseinen Bette weinend saz Der kent euch nicht ihr himmlishen Máchte ! Também Madame Stael com aquela visão percuciente que tinha do romantismo, escrevêra sôbre a poesia: o dom de re– velar pela palavra o que existe no fundo do coração, é muito raro; no entanto, ha poesia em todos os sêres capazes de afeições vivas e profundas e o poeta apenas faz libertar o sentimento que estava preso no íntimo da alma. Sílvio Romero não entendia semelhante linguagem, e tudo fêz para dar à sua geração, um novo sentido à poesia, mar– cando-a cºom o sinete da ciencia que seria o sinal daquela eman– cipação espiritual de que falava Graça Aranha, num dos seus mais combatidos romances, A Viagem Maravilhosa, ao se refe· rir à escola de Recife. Talvez s_e explique em parte a reação de Silvio contra o romantismo, pela formação filosófica de seu espírito, saturado j~, aos 20 anos, de entusiasmo reformista que lhe viera como uma centelha ou mensagem divina, na lei: tura de Taine, Scherer, Comte, Darwin e os naturalistas alemães ' -85-
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