Revista da Academia Paraense de Letras 1964
, REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS sia cientifica, mesmo quando proclam~v3: que o romantismo ~s– tava morto não era mais que um romantlco. Talvez um roman– tico a seu' modo, mas sempre um romântico. E já de agora, acrescento, não só na poesia mas na crítica, na política, na sua própria !uta con_tra aquilo que chamava os erros do passado. Explicarei melhor meu pensamento, acentuando que, mesmo depois que o romantismo se confinára "no perigoso ego– centrismo literário, no transbordamento de tôdas as balizas da imaginação" como afirma Ronald de Carvalho (obr. cit. pag. 278), e de que surgíra pelo próprio cansaço da imaginação, uma nova forma de expressar a vida, impessoal e objetiva, ainda as· sim, restaria na alma brasileira, aquele substractum lírico que lhe vem do profund_o da nossa formação etnica, do mistério das 1 nossas origens ancestrais e talvez da própria terra que Deus nos deu. E Sílvio, à semelhança dos homens de sua geração, que velo a ser também a do naturalismo, não poderia fugir a êsse fascínio, que era como um reflexo do próprio caldeamen– to da raça, ainda em busca de fixação, dessa miscegenação que tanto o empolgou, ao estudar as raízes do nosso folclore. Alvaro Lins escrevendo (Rev. do Brasil n. 35 pág. 133) sôbre dois naturalistàs - Aloizio Azevedo e Julio Ribeiro de· pois de afirmar que nenhum movimento de idéias se identifica mais exatamente, com a nossa realidade, como o romantismo, sobretudo a nossa poesia, que encontra nêle os seus maiores recursos de realização, acrescenta que mesmo após a eclosão vi– toriosa do naturalismo na Europa e a sua interferência nas nos– sas letras, muitos dos nossos naturalistas se conservaram ou por temperamento ou por formação, bastante ligados ao' ro· mantismo. E conclui: talvez seja possível dizer que o nosso naturalismo é um naturalismo pelo avesso. Romântico da fi– losofia, um Tobias Barreto. Romântico da c1itica üm Sílvio Romero. Romântico da política, um Rui Barbosa. ' Todos os que se ocuparam ou se ocupam da crítica lite· rária em nosso país não poderão negar êsse fundo romântico das nossas creações. ru:tísticas. O J?róprio Sílvio por mais de uma vez, ao notar sm_ais do romantismo em tôda a poesia bra– sileira, não poude fugir a essa conclusão, embora a ladeasse ou subestimasse, como um traço de inferioridade de nossa cultura ou como um produto de importação européa. Apenas não via ou não queria vêr, que essa tendência estava mais no homem nas suas raízes, nas suas fontes, do que nas letras. A eclosão da sensibilidade artistica, e o conhecimento do que se passava na Europa, vinham apenas revelar e fazer explodir essa grande fôr– ça que estava latente_ no brasileiro e q~e encontrava terreno pró· prio no nosso sentimentalismo congemto, nesse produto de três - 84-
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