Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Não possuía a nebulosidade e a sinuosidade, de estilo e de argumentação de Renan, para quem a delicadesa do espírito consistia em abster-se de concluir e que gosta.J.a de sugerír, in– sinuar, comprazendo-se na indecisão doutrinal, num ceticismo desdenhoso, reticente, quasi cartesiano. Silvio era direto como um silogismo, preciso e objetivo no raciocínio, mas, norteado, sobretudo na crítica, por uma vi– são individualista, condenando muitas vezes, como diz Ronald de Carvalho (obr. dt. pág. 324), mais os homens que os prin– cípios, vendo a obra através do autor, julgando a cultura atra– vés da raça. Daí os seus equívocos sôbre o romantismo e sôbre os ro– mânticos, que o tempo retificou. Porque o romantismo descam– bára em sua época, para o vasio da palavrosidade retumbante, e desvairamentos mórbidos em alguns retardatários, que bem poderíamos explicar hoje através de Freud, nem por isso dei– xava de ser e continuou a ser, a realização de uma tendência para libertação, na afirmação da individualidade, dentro de um determinado momento histórico. E como fase de cultura, o romantismo teria que chegar à saturação e ao cansaço, para se desdobrar em novas formas de opressão e de vida, mas em função do próprio tempo e da própria Vida, que buscava interpretar. Certo, a ciência traria uma das mais fortes contribuições para a renovação das formas da Vida, e portanto, de sua representação na Arte. Mas a ilu– são cientifica, como á ilusão intelectualistica, não bastariam, só por si, para superar e destruir a inteligência creadôra. Seriam efêmeras e transitórias, e marcariam apenas um instante na tentativa de renovação da Arte. Silvio, empolgado por seu cien– tificismo, tomou êsse instante por definitivo e como teórico apaixonado, apresentou uma solução, a sua teoria do conceptua– lismo filosófico na poesia, nem por isso menos precária e de certa forma ingenua, que não vingou, apesar de alguns prosé– litos que conseguiu arregimentar, como Martins Junior e Tei– xeira de Souza e outros, que no dizer de Ronald de Carvalho (Pequena Hist. da Lit. Bras. pag. 85), envenenaram por um momento, as fontes do lirismo brasileiro. Se os Cantos do fim do século e Ultimos Harpejos, que eram as mensagens da nova poesia, da poesia criticista, refle– tem, uma das facetas da força creadôra de Silvio, ou talvez me– lhor após de sua obstinação messianica de pioneiro e reformador em nada concorreram para a sua glória, nem para alçá-lo entr~ os grandes poetas de sua geração e muito menos para derivar a corrente romântica p a r a outros rumos . O iniludível é que Silvio, mesmo quando apregoava as vírtudes da nova poe- -83-
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