Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS mais tarde, Farias Brito ou Jackson de Figueiredo Passára por todos, procurando na versatilidade, talvez uma acomodação ou uma resposta às suas-inquietações. Porque Sílvio~ em suma, foi um inquieto, um curioso, dir-se-ia um obcecado pela verdade através da ciência; em cer– to sentido, um espírito positivo, fascinado pelas ciências expe– rimentais, mas que ~nunca se poude libertar da influência de Spencer e daquele tabú cientificista, que ressalta em quasi tôda a sua obra, ainda quando nos últimos tempos parecia já desen– cantado do evolucionismo, por não encontrar mais nêle, aquela objetividade, que fôra sempre o lei-motivo, dentro mesmo da sua própria versatilidade. Daí o seu logicismo, que o levaria por vezes a conclusões forçadas e falsas, na apreciação dos fe– nômenos sociais e a esquematizações que eram como um desdo– bramento de seu raciocínio lógico, um resultado de sua obstina– da preocupação de teórico. Várias de suas contradições de– rivam dêsse espírito de ordem e de concatenação de doutri– na" que proclamava em tese de concurso. O que Descartes separara, isto é, os filósofos, dos homens de ciencia, Sílvio buscava unir numa filosofia científica, dentro de quadros de ciencia pura, em que deveriam ser aplicados os métodos, diríamos melhor, os postulados antropobiológicos, ou aquele logicismo, que tem em nossos dias como figura central, Bertrand Russel. · Foi levado por essas tendencias, que estruturou a sua nova teoria de arte: a substituição do subjetivismo empírico pelo objetivismó científico ou como êle entenda, pelo enceptualismo filosófico na poesia. Partindo do presuposto de que a arte deve ser uma con– sequencia e uma siritese de todos os princípios que agitaram o século XIX, queria êle no manifesto de 1873, que a poesia tam– bém fosse cientifica, ou como diz Silvio Rabelo (,obr. cit. pag. 65) uma poesia que fosse o resultado da intuição crítica, acima de todo o particularismo de doutrina e de motivos. A poesia teria que derivar ou se álimentar da filosofia e da ciencia, aprovei– t>ando desta as conclusões mais gerais. Em tom dogmático, Sílvio Romero, já em 1870, com 19 anos escrevia: a poesia será cosmopolita, porque há de ser hu– mana, será crente, porque acreditará no futuro, vive . conosco, palpita no seio da humanidade, é um dos seus predicamentos' imanentes. Na vasta obra da poesia e da arte, transformada pela ciência e pelas novas inclinações da cultura contemporâ– nea, todos os assuntos têm o direito de apresentar-se. E con– cluía: a poesia e a arte devem pelas transformações cientificas moldar suas creações, e a poesia sobretudo não escapa a esta ne- -81-

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