Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS se deixaram sugestlonar e prender ao seu primeiro contacto, antes, dêle se afastavam, com o desencanto de uma quasi frus– tração freudiana, ou com a surpresa e o desconsolo de um jul– gamento contrário às suas mais puras convicções intelectuais. É que são precisos certos caminhos e uma espécie de novicia· do espiritual, para e.ntender e compreender o que de profun– do existe na energia creadora do pensamento de Sílvio, mesmo quando nos desconténta, ainda quando nos contraría. Tal como Fr~ud, que só se revela em todo o seu poder, depois de muitas sondagens, tão complexo e abismal parece o conteúdo de sua originalidade. Eu fui um dêsses, que dele se aproximaram, sem lhe sen– tir, de pronto e de começo, a força de seu gênio e a magia de sua influência. Talyez porque dêle me acerquei muito cedo, com a incompreensão dos meus 16 anos, talvez pela prevenção que nele encontrei contra Castro Alves, um dos ídolos da minha juventude. Nesses dias, os versos do condorero baiano repercutiam no meu sentimentalismo, com uma ressonância lírica e amorosa que era quasi como uma dessas afinidades eletivas de que fa~ lava Goethe. É à I!}inha ortodoxia de crente, doía como blas– fêmia, o juízo crítico de Sílvio, ao considerar Castro Alves ape– nas o enfant gaté dos dispensadores da fama neste país, após– tolo andante do Condoreirismo, discípulo na poesia, do poeta dos Dias e Noites, e que alçava Tobias Barreto às alturas de iniciador e mais conspícuo representante do Hugoanismo poé– tico, em detrimento e menoscabo do cantor das Espumas Flu– tuantes. , Meses depois 1 já acadêmico, encontrei-me de novo com Sílvio, mas na seára do direito, e a êle então fiquei devendo um conhecimento m_ais íntimo com Tobias, não mais ·como poe– ta, mas como jurista-filó~ofo, para empregar uma expressão tão de agrado de Clovis Bev1laqua, e sobretudo, uma visão panorâ– mica do Direito, que êl.e colocava com propriedade e profundo senso crítico-históric"o, entre as cinco creações fundamentais e irredutíveis da humanidade. Para a minha geração acadêmi– ca, que floriu, nos pródon_10~ da gue~ra_ de 191~, os Estudos de Filosofia de Direito, de S1lv10, constitmra!-11. mais que um com– pêndio de curso, um fascinante caledo~c~p10, onde as imagens e as sugestões se tr~nsmudavam, de_sublto, em pro~lemas in– quietantes do conhecm~ento e_ da _ra~ao, para os q;1a1s a nossa curiosidade era, insens1vel e irresistivelmente atraida, sobretu– do naquelas horas de cr_ise do pe~samento. ~ de sub~e~~ão ~e todos os princípios morais e conqmstas pacificas da civ11izaçao, -78-

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