Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS podia ser alegre como o de outrora, e retrucou : "Ora, mi– nha filha, deixa disso, fica em casa. Si temos de graça o Genésio Cavalcanti. Referia-se ao grande Genésio já men– cionado nesta oração, com quem sempre pilheriava, rece– bendo, em troca, outras tantas pilhérias; é que eram real– mente ,amigos. E prometeu, por fim, à filha querida, que iriam ao espetáculo desejado. Não decorrera uma hora. A hemopetise, o colapso, o desmaio. Alvoraçava-se a família e o pequeno quarteirão. Estava morto. O Professor José Alves Maia, velho amigo, quem o levara ao Acre logo à sua fo1matura, passava ocasionalmen– te e, ao ouvir os gritos de angústia, subiu ao andar residen– cial, cabendo-lhe a piedosa missão de colocar-lhe a vela nas mãos para morrer na Luz da Fé que êle tanto amara. Fizemos-lhe ronda ao esquife tôda a noite. Na coin– cidência dolorosa dos fatos, morrera na casa em que ao tempo do rompimento de suas relações com o Professor Luiz Dejard, a quem depois se prendera por uma reparadora gra– tidão - viera morar conosco. Nessa ronda, raros dos seus amigos. Dois ou três, na confirmação filosófica do clás– sico soneto Camiliano, ali pernoitaram. Dentre ê:les, como sombra amiga que lhe fôra em vida, merece lembrado o inconfundível e nosso velho confrade de imprensa - Dan– tas Tourinho. No silêncio môrno daquela madrugada de outubro, pudemos, então, na triste?!a do velorium, passar em revista sua existência. Como fôra, a exemplo de tantos outros e de nós mesmo, esteril para si próprio. Morrera completa– mente pobre, cumprindo o destino da maioria, da grande maioria dos tr.abalhadores intelectuais, do Brasil pelo menos. Tremeluziam as luzes dos círios e desciam-lhes, em rosário, gôtas quentes de cêra. . . Dir-se-ia que chorava a Luz a perda dolorosa e procurava esconder sob a terra em cuja direção seguiam, aquela mesma terra que acolheria ho– ras depois o seu corpo inanimado - sua Dor, sua imensa Dor ... * * Senhores: Seriamos insinceros se dissessemos haver preparado êste despretenci01lO trabalho para o ato, que presenciamos, em merecida homenagem pó~tuma a DEJARD DE MEN- _ 74 _

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