Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Melhorou de tudo. Comprometera-se, em má com– pensação, e de forma alarmante, a saúde da espôsa. Em– barcou com ela, em tumulto de angústia para a terra alen– carina e a viu morrer nos braços; assim, em terra estranha. Fôra uma tuberculose de curso dur~doiro, sem que acredi– tasse nessa desgraça e sem que se precavesse, por si e pe– los filhos. Quase alucinou dessa nova investida do destino. E o pior, sem mesmo suspeitar. O mal que a matara já cor– roia-lhe, desgraçadamente, o organismo antes forte e bonito. O fim se aproximava, as dificuldades ressurgiam maiores e mais tremendas. Os amigos rareavam, os ini– migos tripudiavam. D'os que ficaram, m e r e e e m relem– migas tripudiavam. Dos que ficamm, merecem sei· relem– brados Abelardo Condurú, Deodoro de Mendonça, Edgar Proença e Benedito Frade, seus antigos e dilétos compa– nheiros, Boêmios da sua estirpe soberba, que relembram uma fase alegre e espiritual vivida em todos os ângulos sa– dios da cidade, notadamente na desaparecida "Rotisserie Suisse", agora um depósito de canos para vender ... * * 1939. Véspera do Cirio. Na impossibilidade já de descer escadas combinara que um carregador, seu serviçal antigo, manhã seguinte, o iria apanhar a fim de, na es– quina da rua pela qual veria passar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em sua majestosa procissão pudesse adorá-la uma vez mais. Aquela mesma procissão pela manutenção de cujo modo e tradição tanto se bJ.tera pelo seu jornal. Mais paraense do que ninguém, as~istia, em pessoa, com uma irmã, sucessora da espôsa na direção do lar, o pre– paro dos quitutes par,a o almôço do grande Dia. Num lam– pejo ainda de sua verve quase extinta ainda fez rir a quan– tos o rodeavam com o seguinte episódio Nessa noite estrea– ria no arraial da milag-rosa Santá e em um dos seus extin– tos e tradicionais t eatrinhos, um artista de nome Genésio Arruda. Um palhaço, na rua, anundava o grande acon– tecimento. Uma de suas filhas, mocinha, alegre e vivaz vindo da janela que debruçava sôbre a travessa por ond~ pouco antes passara o propagandista do espetáculo, pediu– lhe : "Papai, deixa-nos ir a ver o IGenésio Arruda ? Dizem que é muito engraçado. Olhe : a entrada custa sómente dois e seiscentos ... " :tle sorriu, um sorriso que já não - 73 -

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