Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Muito cêdo, conhec'i, além dos principais poetas brasi– leiros: José Bonifácio, Gonzaga, Gonçalves Dias, Castro Alves, Alvares de Azevedo, Tobias, Laurindo Rabelo, Casimiro de Abreu; muitos poetas portuguêses e alguns francêses : Camões, Tomaz Ribeiro, Castilho, Soares de Passos, Boccage, Almeida Garrett, Voltaire, Racine, Cornélio, Fenelon, Chateaubriand. Co– nhecia, também, coisa da literatura_hebráica: o Gênesis, o :E:xodo, os Psalmos, os livros de Job, de Esther, de Judith, o Cântico dos Cânticos e os Profetas. Por êsse tempo andava meu pai empenhado num ·grande trabalho, ainda hoje inédito, sôbre as sêcas do nordeste, suas causas e remédios. Lia e escrevia muito. Eu, inteiramente livre das preocupações da vida prátic'a, era, até certo ponto, levado ao desejo de imitar. No seio de semelhante natureza, que a minha felicidade de então fazia paradisíaca, com o grande en– tusiasmo que em mim provocavam os poetas, cuja glória me parecia de uma natureza superiormente divina, fui levado a ex– pressar alguma coisa da onda exuberante do meu sentir e quan– do, pela primeira vez o tentei fi-lo em verso". VOCAÇÃO DE LUTA Como vêdes, o talento de Augusto Meira palmilhou sem– pre um caminho atapetado de flôres; o de Paulo Maranhão teve pela frente o constante desafio de uma juventude sem recursos, sem auxílio, quase sem amigos. Ambos, porém, têm uma afinidade, um ponto em comum : o amor da causa pública, a dedicação às classes menos favoreci– das, um alto espírito de Justiça, a c·oragem moral, a vocação para a luta. 'Mestre Meira apurou para isso o seu estilo nos grandes modelos clássicos das literaturas antigas e modernas e, ao lado do jurista, é o poeta primoroso de "Brasileis"; Mestre Maranhão mergulhou na riqueza inesgotável dos exímios escritores da língua portuguêsa e foi com esta poderosa clava que êle desa– fiou a cólera de pequeninos deuses da política paraense, du– rante mais de meio século; entre nós é o último verdadeiro po– lemista à João Brígido, e panfletário à Paul Louis Courier, pela opulência da forma, pelo epíteto incandescente, pela frase cor– rosiva, pela limpidez do vernáculo e pela simplicidade de lin– guegem. -= 63 -

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