Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS foi estropiado no ataque a pau e a tiro que sofri do capanga lemista Antonio Marcelino. O dedo que puxa o gatilho está, porém, de boa saúde". Sabem os claríssimos confrades e os ilustres ouvintes como Paulo Maranhão travou contácto com as letras ? Carre– gando um taquleiro de comida para os literatos. Vamos dar mais uma vez a palavra ao intrépido jornalista: "Para fruir o convívio dos nomes famosos que brilha– vam no horizonte literário da época - Paulino de Brito, Frede– rico Rhossard, João de Deus do Rêgo, Fernandes Belo, Heliodo– ro de Brito, Mucio Javrot, Barroso Rebelo e outros - oferecia– me para ir buscar as refeições de Manuel Valente do Couto à sua casa. Ia e vinha a pé. Palmilhava um longo trajeto, desde a travessa então chamada das Mercês, até uma das transversais do Umarizal trazendo à labeça um pesado tabuleiro. Do almoço partilhavam, refreando a bravura indômita do apetite, porque a comida não chegava para todos, os pensionistas esfomeados, do Parnaso, que pagavam os líquidos consumidos. Valente do Couto, que em um belo e galhardo mulato já grisalho, exercia as funções de gerente do "Diário de Belém", onde se manipu– lava a única revista literária do tempo - a "Arena". Mestre José Augusto Meira Dantas veio à luz na Casa Grande, de um engénho de açúcar, descende da aristocracia rural do nordeste. Nasceu, como hoje se diria, replicando em lugar comum, em berço de ouro. Ouçamos o seu próprio depoi– mento: "Meu pai tinha çonstante preocupação pelo que dizia res– peito às coisas públicas, ~ ~ujo ~erviço estive;ª como deputado geral, magistrãdo e Presidente de duas Provmcias. Fez a pro– paganda repub_Iicana em c·onferências a que por vezes assisti. Eu ainda era de muito tenra idade e já meu pai me havia êle mesmo, pôsto nas mão~ a Eneida de Virgilio, as Odes d~ Horácio, a muito sábia e pitoresca prosa de Lívio. O áustero sentir dos livros de Tácito. De fato, era êle um profundo conhecedor da língua latina, a tal ponto, que lia ne_sses livros como leria em português e isto quando teve de me dar lições (pois fôra o meu único professôr até que, feito o meu C'Urso de humanidades, tive de cursar a Faculdade de Direito de Recife), segundo me dizia, 40 anos depois de o haver estudado em Olinda, no colégio de um seu irmão mais velho, dr. José Lourenço Meira de Vasconcelos. -62-

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