Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS c,iência cristã, que se às vezes se tem desviado do reto caminho é por causa do pecado original, que não nos permite a todos sermos puros como os anjos. Em todo o caso, consinta Deus que eu possa plantar ou chantar a cruz desta incumbência no alto da montanha a con– tento de todos. DUAS ORIGENS, DOIS DESTINOS Não se podem enfeixar Paulo Maranhão e Augusto Meira nas mesmas considerações de admiração e simpatia, por– que são duas personalidades distintas pela sua origem social e pelo seu destino no mundo. Mestre João Paulo de Albuquerque Maranhão amanheceu na terra marcado pela humildade e pelo sofrimento. Esc~temo-lo em suas mesmas palavras, reproduzidas em livro por Georgenor Franco: "A minha adolescência não ~onheceu o luclibrio dos sonhos em estado de vigília. Por isso mesmo, pude atravessá-la sem que sentisse morder-me o estímulo de nenhuma esperança, ou o colmilho de algum despeito. Trabalhos e dificuldades, can– seiras e decepções, isso sim. E, pelo resto da vida. Meu pai, falecido ao completar eu a idade aneja, dera-me como padrinho, no ·batismo, um irmão colaço, provido de recur– sos. Acreditava que me beneficiaria, quando eu lhe fôsse esten– der a mão pedinte. Aos oito anos tive necessidade dos primeiros sapatos para ir à escola do bairro em que eu nascera e cresclia, o bairro da Campina, que não sei como se denomina hoje. O professôr reve– lava-se intratável e agressivo com os alunos de tamancos. Era o momento de agitar a pesada aldrava da porta do homem que seria a minha Providência. Acudiu ao apêlo a dona da casa, senhora madura, que se distinguia, logo à primeira vista, por uma pápula azulada no dorso do nariz. Acolheu-me rudemente não sei com quantas pedras nas mãos. De seguro, mais de quatro. . Eu estava em presença da comborça do meu padrinho. Tinha ela anelões fulgurantes em quase todos os dedos arreca– das de ouro nas orelhas e um roca! de "pingos dágua" ~oloridos ao pescoço, pelhancudo e rugoso como toutiço de vaca velha. - Que modos são êsses de bater na porta alheia? Não sei como não a deitaste abaixo ! - exclamou, aplicando-me um carola violento na cabeça. -60-
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