Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSPJ DE LETRAS lia, que chorava e hoje não chora! Juventa, que cantava e hoje não canta! Hoje, somos os mesmos peregrinos, de passos tar– dos pelo chão dispersos e a quem decanto, em madrigais divi- . nos, no transcendentalismo dos meus versos : Escuta, meu amor: Firmam-se os termos da lei, que, aos nossos corações enfermos, limita a adoração que tens por mim. No decurso das lágrimas que choras, nosso relógio, que não tem mais horas, marca poucos minutos ·para o fim! Seis décadas nos pesam sôbre os ombros! Se, hoje, os nossos castelos são escombros, sôbre essas ruínas teu sorris~ é sol! Deslumbrado no amor com que me elevas, não me assombraram no caminho as trevas, porque, tenho, no lar, meu arrebol! Tu - da insidia fugindo à tempestade; eu - vencendo as crateras da maldade, seremos sempre justamente iguais; Eu - sem temer as lavas do vesuvio, e tu - flutuando à tona do diluvio - dois resigna– dos - viveremos mais! Fomos jardim, floresta e sementeira! Eu - pau d'arco imponente! E tu - roseira, nas terras altas, de sertões enxutos! Hoje, somos dois troncos sem alfombra, árvores sêcas, se_m razão, sem sombra, sem pássaros, sem ni– nhos e sem frutos! No entanto, és môça, para mim, querida! Sacrário augusto, de dourada ermida, onde recebo unção e Eu– caristia, e experimento as emoções de outrora, no mesmo abra– ço que me dás agora, com o mesmo beijo que me deste, um dia! Entre filhos, legára-me uma filha - clicia que as mi– nhas cans aromatisa - flôr de cristal, que nos meus sonhos brilha: Ode - poesia; Isa - Odeísa! Tem olhos - topasio, da côr do dinheiro, tem luz e tem cheiro, calor e al~idês: Tem cara e corôa, brazões de outras éras, princezas auster as de im– pério chinês! Tem palmas de louros, tem datas antigas, tem louras espigas, brotadas do chão; Meu sonho-banqueiro é um velho avarento, guardando-os, sedento, em meu coração! Fi– lões encontrados no chão brasileiro, e eu sou garimpeiro das terras de Deus! Se os deres de esmola a um príncipe nobre, será sempre pobre!. .. Teus olhos são meus! Teus olhos - topasio, de somas vultosas, que as minhas ternuras guardaram, zelosas, no Banco de rosas de um rosto gentil, não sofrem des– contos nem ágios nem quedas, são duas moedas legais do Bra– sil! Se um dia, a princesa de uns olhos tão caros, tiver os am– paros que a sorte requer, irei, pesaroso, fitar, noutros lares, os olhos vulgares que o mundo me der. E quando, à hora aprazada, eu sentir em cada músculo a nortada do crepúsculo murchando-me o coração minha es– posa desolada, junto os meus livros dispersos, convide todos os versos e faça a trasladação. · -57-
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