Revista da Academia Paraense de Letras 1964
ODISCURSO DO PRíNCIPE DOS POETAS Publicamos abaixo o discurso proferido pelo acadêmico Rodrigues Pinagé, na sessão solene de 3 de maio corrente, na sede da Academia Paraense de Letras, aõ_· ensejo de sua consagração como Príncipe dos Poetas do Pará : "Georgenor Franco, o ativo Presidente, que hoje trans– fere a J arbas Passarinho, .o seu posto de rosas e de espinhos, do qual se afasta estatutariamente, sugeriu pela imprensa para– oara, que o modesto orador, neste momento, para mim tão caro, fizesse em versos o agradecimento. No mundo das letras, banhado de auroras, vivi muitas horas do tempo, a rimar. Criança modesto, aos sóis e· às luas, descalça, nas ruas do chão potiguar. Numa casinha escondida, no centro da capital, (o pior dos endereços). Porisso, que a minha vida é uma rua de tropeços: nasci à Rua dos Tocos, na cidade de Natal. Meu.s pais eram pobres, ,ganhavam ,cruzados., vestiam "riscados" de grosso algodão; café? . .. Nem por sonho . .. Du– rante a semana, garapa de cana, com bandas de pão. Compra– vamos tudo, na venda do Augusto. Eu era robusto, meus ma– nos também. O almoço era forte: feijão com tutano, pirá do oceano, cuscús de xerém. Um dia, na Escola, formei um namôro, com mêdo ou decôro, talvez. . . emoção; seu nome. . . Ana Leite, me dava cocada que, eu, na ·calçada, trocava por pão. Senti-me cativo de uns olhos rasgados, de uns lábi!)s corador, da côr de alfinim! Tornei-me poeta, senti a alma cega e, à linda colega fiz versos assim: - De manhãsinha, quando me acordo, a luz bendita do sol me encanta ! Tudo recordo, tudo recordo, nesta hora nes– ta hora santa ! Quando na praia tu me deixavas, sôzi~ho e triste, junto ao rochedo. Oh! minha infância! Como ficavas com tanto medo, com tanto medo ! -55-
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0