Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E lá fiquei no banco da avenida, com a mão estendida para todos os lados da vida, a suplicar, em vão : "- Cigana! Vem ler a minha mão!" Resolveu então o poeta das doçuras, dos gestos l~rgos t: espirituais, desfazer-se da desventura e do envelhecimento. E assim, viajando pela vida, em cruzeiros luminosos, pelas esfe– ras maravilhosas do Sonho, exclamou : Quando morrerem todos os canários e não houver mais hinos na floresta; Quando · em meus versos não houver mais festa nem alegria de viver; Quando os anos que passam me negarem o sorriso do filho, o bem da espôsa, findará minhà estrada côr de rosa ! Então ... Começarei a envelhecer ! Essa estrada cor de rosa pela qual caminha Pinagé, como um raio de luz pere:r:iemente tocado de todas as cintilações, ja– mais findará. :Esses canários, êsses hinos na floresta, êsses versos em festa - jamais findarão - pois Pinagé permane– cerá ereto e transfigurado pela poesia por todo o futuro ! Derramando versos como a terra derrama flores e fru– tos, o antigo boêmio companheiro de Bruno, Maranhão Sobri– nho, Vespasiano, José Simões, Philemon Assumpção, Elmano de Queiroz, Eustáquio de Azevedo, Lucilo Fender, Aires Pal· meira e tantos outros, ainda hoje, na maturidade, parece um menestrel de bandurra em punho, de sorriso constante, de alma translúcida, a cantar, a cantar para esconder tristezas. :f: o trovadoresco renascido e perene, requintado no ver– so puro, na inspiração · inesgotável, como os rouxinois e as pa– tativas. Pinagé, entre os cruzeiros luminosos de sua vida, não deixa nos portos sentimentais por onde passa apenas versos do– lorosos e evocativos. Cultua também, entre duas visadas hu– moristicas, sedução repetida e1:11 curiosas estrofes, com,o, por exemplo, ao ver cabrocha empmada e bonita : Cabôcla de todos os diabos ! Cabelo preto de uma figa ! Cabôcla filha da mãe ! 53 -
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