Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA p ARAENSE DE LETRAS tempos idos, tem resistido, ironicamente, sonhando e versejan– do, no seu peregrin~ terreno aos mais ferozes embates do coti– dianismo, embora certa vez, bradasse, sempre em versos, nos versos em que fala, pensa e delira : Vejo desfazer-se, nesta época de luzes, tudo o que antigamente os santos ignorantes sonhavam de bom e útil para o mundo. Era o primeiro canto amargo, a primeira cutilada que recebi da vida. Este desencanto, esculpiu em versos admirá– veis, que não posso omitir : Minha fogueira de lenha sêca, na rua, à frente do meu portão; De um lado, um monte de gravetinhos feitos à mão. Desde às seis horas, a estou soprando, sempre abanando. . . sempre abanando ... Não ardes ! Não ! Um meu vizinho cortou mangueira com galhos grossos fêz a fogueira de lenha verde, no mesmo chão Olha que chamas ! Que labaredas ! Minha fogueira de lenha sêca ... . Qwe I escuridão ... Era decerto a esperança de felicidade malograda, como disse depois em "Buena Dicha" : Todo o dia a cigana me esperava no banco da Avenida desejava ' ler minha mão, meu passado, meu presente, meu futuro . . . Quando a cigana ergueu o olhar, eu li o meu futuro no seu pranto ! E ninguém sabe o que a cigana leu ! ... -52-
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