Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS e, sobretudo, a Felicidade de, salientando o capricho filosófico que se criou entre o Belo e o Grotesco, entre a Luz e a Treva, dentro em breve abrirmos os olhos ao clarão da poesia e do poeta que homenageamos. A melhor saudação sería talvez uns longos instantes de acrisolado silêncio, como nas catedrais nos apresentamos, na hujnildade qa oração particular, no voto ínti– mo em agradecimentos d'alma. A melhor saudação seria con– firmar o iconoclasta·· simpático que dizia - "Se existe o silên– cio, para que a Música?" Seria confirmar a insuficiência, a in– capacidade para completar a saudação à presença do Poeta, do Príncipe dos Poetas Paraenses, êsse muito querido Rodrigues Pinagé. Dizer quem é, o que é, para que ? Por quais sendas teria eu de enveredar para descobrir a primeira cintilação do seu espírito ? Que noites e que dias escolheria para lhe sur– preender o gesto melhor, o verso melhor? Que madrugadas imortais elegeria pa1;ã me apoderar da melhor atitude e da mais •alta inspiração ? Qü.e hora mais feliz e aguda na inspiração e na qeclamação poderia eu escolher para rebrilho melhor do conteúdo dêsse imenso Poeta ? Que refolhos de espírito e que cadências de coração poderia eu apreender do Poeta para en– castoar melhor sua expressão ? Em que suavidades de fra– ternidade e de renúncias poderia eu me esconder para colher a pérola melhor do seu espírito ? Na infância? Na mociãµde? Na maturidade ? Mas Pinagé nasceu sob o signo do rítmo e assim refloriu na mocida– de e se tornou jardim na maturidade, sob os suaves e brandos ventos de constante inspiração. Recordando, por exemplo, a infância, escreveu : Lembro-me sempre ! Minha mãe cantava à luz do sol que descobria a serra; e eu, travesso e feliz, a acompanhava pelos campos em flor, de minha terra. Brindava a serra do seu Rio Grande do Norte, bela ter– ra também de meus avós paternos. Brindava a doce mãe can– tando, como cantando partiu para o extremo norte. Em Bragança, aos 22 anos publicou o primeiro livro - "Perfis" - iniciando assim a generosa distribuição do seu es– pírito entre amante~ do ritmo. Bruno de Menezes, o saudoso Bruno de todos nós, escreveu que "nesta Belém de formosuras que se foram" viveu a juventude e a mocidade, junto a esta alma predestinada para o Sonho, que é o autor de "Tapera'. Em perene aura de poesia, continúa o imortal autor de "Batu– que", Pinagé mais do que qualquer um de nós, depois daquêles -51-

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