Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Pobre mãe! Quantas lágrimas choraste! Como longe de mim tu vais ficando, Quanto jamais na vida me ficaste! ... Foi ainda subindo o Amazonas e com o pensamento na mãe, saudosa que escreveu êstes outros versos: (II) I I Sei que tú trazes no meio do teu seio A alma, por mim, de dores transbordando Tudo isto eu sinto, mãe, tudo isto leio Em cada carta ·que me vais mandando. De onde foi que esta lágrima assim veiu Bailar-me nos olhos . como está bailando ? Foi do meu coração que vive cheio De ti, que vives sempre em mim pensando. Mas há de, em breve, o instante da aleglia Chegar; e a mágua como por encanto Fugir de nós, dentre nós dois, no dia Em que eu voltar, no dia em que meus braços A caminho da aldeia que amo tanto, Em cruz se abrirem para os teus abraços . .. Ao lado da profunda emotividade, que brota dêsses ver– sos, há nêles um assinalado poder descritivo do poeta, que em poucas palavras pint_a "os ermos sem fim dêstes lugares" dos rios e Earanás da Amazônia, "de um lado e do outro as árvores. Sombrío o sol rezando às árvores parece e como um sonho uma tristeza desce ao laz:go leito múrmuro do rio". Quem conhece a obra de , Vespasiano Ramos no Pará a não ser uma elite i!}telectual ? . <?nde anda o seu livro ? Que livrarias o expõem em suas vitrmes ? Que editoras o publi– cam? , Pergunta de difíc~ resposta... O mesmo pode _dizer-se de dezenas de outros escritores e poetas, com produções de alto quilate, cujas obras se perde!ll nas páginas das revistas e jor– nais, não sendo jam~ recol~~as em um to_mo, nem divulgadas, nem analisadas, nem transrmbdas de geraçao a geração. Basta apenas a tradição oral, à maneira dos povos da Antiguidade, em que as creações literárias se perpetuavam na memória popular. -32-
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