Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Contra tal estado· de coisas a Academia Paraense de Le– tras constitui sem dúvida um refúgio onde homens de pen– samento podem buscar ambiente propício. SENHORES ACAD:t!::MICOS. Antecederam-me como pa– trono e ocupantes da cadeira n. 40 dêste silogeu três poetas: Vespasiano Ramos, Elmano de Queiroz e Luiz Teixeira Gomes. Que alegria me invade o coração, nesta oportunidade, em que posso dizer algumas palavras sôbre três almas sensíveis, que em versos deixaram imortalizadas as suas bonanças e amar– guras! A poesia - disse-o Novalis - é o verdadeiro real abso– luto. 1!:ste é o embrião da minha filosofia. Quanto mais poé– tico, mais verdadeiro (Die Poesie ist das echt absout reelle. Dies ist der Kern lneiner Philosophie. Je poetischer, je wah– rer). Vespasiano Ramos nasceu no Estado do Maranhão. Teve porém a sua vida espiritual profundamente ligada à Amazônia, especialmente ao Pará, que buscou no início do século, numa época em que a região atraía a atenção do mundo com a pro– dução da borracha a alto prêço e o fausto dela decorrente. Deixou os seus pagos, a sua aldeia, os amigos e paren– tes, a mãe extremosa, e como todo homem que emigra - ou talvez em maior grau, por ser poeta - a alma sangrando de saudades. Sonhos o embalavam de vitória e progresso. São dêsse tempo os versos que vou ler, guardados carinhosamente por mãos amigas e discretas há muitos anos, como quem escon– de da vista profana tesouros de raro valor : SUBINDO O AMAZONAS I De um lado e de outro as árvores.Sombrío O sol rezando às árvores, parece; E como um sonho uma trist~za desce, Ao largo leito múrmuro do no. Da saudade mais íntima, d~sf~o 0 rosário que a amarga ausencia tesce, E dentro em mim, mais a saudade _cresce, Quanto mais singra as aguas o navio. Vai na minh'alma viva de pesares, A tua alma de mãe me acompanhando Pelos ermos sem fim dêstes lugares. -31 -

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