Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS glórias humanas ou, como a concebeu Virgilio, com tantos olhos, orelhas, bocas e línguas quantas são as penas que lhe cobrem o corpo ... mostrum horrendum, ingens, cui quot ·sunt corpore plumae, tot vigiles oculi subter (mirable dictu), tot lingv.ae, totidem ora sonant, tot subrigit auris A fama, que à noite vôa entre céu e a terra, na sombra, estridente e nunca dorme : Nocte volat caeli medio terraeque perumbra,m stridens, nec -dulci declinat lumina somno. Falta aos intelectuais da Amaôznia a aliança poderosa dessa divindade pagã, tão bem simbolizada nos traços da mito– logia antiga. A região sem medidas compraz-se em absorver os próprios filhos na sua grandeza telúrica. Muitos jamais consegui– ram ultrapassar as fronteiras regionais, apesar de seu valor in– trínseco em nada inferior aos dos mais enaltecidos escritores e poetas de outras terras. Perdemos intelectuais que emigram, mas enriquecemo– nos com os que imigram, aqui chegam um dia, deslumbram-se com a natureza inescedível, passam a amar a gleba como sua, lançam raízes, crescem, frondejam e integram-se definitivamen– te no celeiro imenso. Basta citar, no passado, Farias Brito (alma simples, filósofo autêntico), que aqui encontrou abrigo e ambiente propício às suas elocubrações de pensador altíssi· mo. Escreveu certa vez Bruno de Menezes, em estudo literá– rio sôbre Jaques Flores: "Nã9 duvidemos.Quem traz nQ desti– no o fatalismo das letras, em nossa terra e daqui não dá o f óra com assinaladas exceções, não escapa à trágica sorte dos bar~ queiras do Volga". Poucos, muito poucos podem dizer com Osvaldo Orico, referindo-se à terra natal : Longe de ti, nos braços eu te aperto e vivendo distante, vivo perto, p~rque minha saudade vive aqui. Além desses fatores negativos, há ainda uma criticazi– nha liliputiana, nas~ida em fontes ~ue_ nunca revelaram a sua capacidade de produção e que s~ llmita a pôr tropeços, com ares de alta sabedoria, ~1os camm~~s daqueles que ainda fa– zem algo pela vida cultural da reg1ao. -30-

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