Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Franco de Almeida, fundando a Efemeris, prójetava-se o Pará de novo, com prestigio singular, no plano nacional. E, por fim, agora, quando vós todos, restauradores e animadores desta Aca– demia fazeis dela o centro de gravitação dos interêsses e da so– lidari~dade dos melhores valores literários da Amazônia. É que a Academia acompanha os destinos da Amazônia e como ela tem tido as suas horas de glória e de infortunio". O intelectual nesta região luta contra numerosos fato– res negativos que tornam a sua vitória muito difícil: a distân– cia que a separa dos maiores centros, a falta de editoras de grande tiragem, a carência de recursos materiais. Muitas vêzes os que alimentam sonhos mais altos emi– gram: é a terra qu~ sangra,. perdendo capacidades que b~scam meios mais prósperos e horizontes que lhes parecem mais lar– gos. H'á exemplos a apontar: Inglez de Souza, filho de óbi– dos, muito jovem transferiu-se para o Sul. Jurista de altíssi– ma capacidade, escritor de boa lavra, tornou-se um nome na– cional em São Paulo e Rio de Janeiro. José Veríssimo, aqui nascido mudou-se para o Rio de Janeiro, onde adquiriu renome como um dos mais respeitados críticos de seu tempo. E ao escrever a História da Literatura Brasileira, quase nada refere de sua terra natal, o que mereceu a censura de Eustáquio de Azevedo, quando afirma: "O próprio sr. José Veríssimo, sau– doso escritor brasileiro e paraense erudito, na sua História da Literatura Brasileira de nós não cuidou, nem de leve, ao me– nos. . . É que na opinião do abalisado crítico e ríspido analista, nas resenhas e estudos literários ... " o Pará é impossível fi– gurar" e a quem, com pesar dizia, "a civilização brasileira nada, absolutamente, deve" (Revista Amazônica, pág. 174). Não compartilho da convicção, sem dúvida mal forma– da, do eminente crítico. Nunca nos faltaram valores. Escas– seiavam-nos, sim, os meios de propaganda, tão fáceis no sul; e as editoras de grandes proporções, que inceruivam escritores e os lançam projeta.ndo os seus nomes em todas as direções . Militam contra nós as enormes distâncias, mil e uma dificul– dades a vencer numa terra imensa e grandiosa, mas desprovida de meios de comunicação eficazes que pudessem distribuir a to– dos os ventos o que aqui se produz. E as vocações muitas vêzes se estiolam, nem todos dão de si o de que são capazes, o poten– cial, que é grande, fenece, desencanta-se ante tantas barreiras que se opõem à verdadeira cultura. Num confronto com ex– pressões espirituais de outras regiões jamais os nossos inte– lectuais ficaram em segundo plano: faltam-lhes apenas os favô– res da Fama, que os antigos transformaram em divindade, men– sageira de Jupiter, com cem bôcas a anunciarem ao mundo as -29-

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