Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS No Brasil, a poesia de Castro Alves, os discursos de Nabuco, as campanhas de Rui foram, em suas épocas, magní– ficos exemplos de literatura engajada. Porém, a vitória do abo– licionismo, em 88, e a derrota do civilismo, em 910, não esgo– taram as suas mensagens. Findo o episódio da luta, fixaram– se para sempre na antologia da língua portuguesa. Senhores acadêmicos: - Honro-me de atingir ainda jovem a vossa ·companhia. Aqui não chego com ·remorsos nem recalques. Vossa escôlha foi espontânea e incondicional. Não fingi, não menti, não pedi, não prometi. Se me quisestes tal qual sou, o melhor a fazer é não mudar. Em cada momento e sôbre cada assunto, poderá faltar à minha palavra colorido; espero em Deus que nunca lhe falte convicção. Nada acredito que se possa transmitir aos outros, e muito menos convencê-los, senão na medida em que nós próprios estamos convencidos. Houve em minha adolescência certo poeta ..:__ Raul de Leoni - cuja influência perdurou intacta. No seu pequeno livro - Luz Mediterrânea - existe um poema que traduz aquele conflito literário aqui exposto como característico dêstes nossos dias atormentados. Faz pela tese mais ·que a expôr. Em verdade, a demonstra, colocando, há 30 anos, o dilema nestes versos que poderiam ser feitos amanhã: - "Há idéias que na vida cultivamos Pela volúpia inútil de pensar, Pela simples beleza, pela graça Floral, pelo prazer que elas nos dão ... Por êsse estado de ilusão chinesa Em que nos adormecem a consciência, Aquarelas efêmeras do espírito, Paisagem meigas da imaginação Idéias lindas que não criam nada ! As idéias gue criam, as idéias Vivas que elevam religiões e impérios, Gênios e heróis e mártires e santos; As idéias orgânicas e eternas Que dão nome aos séculos, destino As raças, glória aos hom~ns, fôrça à vida, Que nutrem almas e orientam povos, Fecundam gerações e geram deuses E que semeiam civilizações, Essas terão que vir da nossa fonte humana Deitando profundíssimas raízes ' No generoso espírito em que nasçam; - 288 - ·

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