Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Trinta anos depois, morto Lanson, seu livro foi revisto e reeditado por Paul Tuffrau, que substituíu aquela conclusão por esta: - "A arte, esfôrço intelectual pela perfeição, é escarnecida; parece um artifício hipócrita e ridículo que sufoca a espontaneidade, a "autenticidade" da mensagem da qual cada escritor se sente depositário. Quanto à arte pela arte, é denunciada como uína de– serção; sonhar, trabalhar na realização de uma obra bela, que será uma fonte eterna de alegria, é se furtar às exigências imperiosas do dever social: o escritor deve se engajar e servir". São os conceitos de duas gerações. No primeiro, de Lanson, está definida a linha de um Proust, de um Gide, de um Valéry. No segundo, de Tuffrau, está nítida a posição de um Kafka, de um Brecht, de um Camus, de um Wassermann. Se a opção por uma diretriz importasse fatalmente em excluir a outra, penso que a razão estaria, agora, com os segundos. Razão tanto maior em país como o Brasil, em região como a Amazônia, cujo subdesenvolvimento reclama das suas rarefeitas elites uma atitude audaciosa, inconformada e perseverante. Não posso con– ceber que entre as finalidades de qualquer agremiação, onde se reúnam intelectuais, não tenham hoje preferência os temas relacionados com o progresso e o bem estar da comunidade. É nesse sentido que entendo e respeito as agoniadas perguntas de Sartre: "Que é escrever ? Por que escrever ? Para quem es– crever?'. Todavia, serão definitivamente incompatíveis a luta con– tra a miséria ou a tirania e o esfôrço pela beleza ? Se tal incom– patibilidade existe, é muito recente. No passado, ao contrário, as literaturas de todos os povos estão cheias de desmentidos a essa aparente contradição. Quando Pascal, no Século XVII, escreveu as Provinciais, o seu objetivo não era apenas es~ético mas sim religioso. A obra se destinava a defender o janserusmo contra os jesuítas. O "Espírito das Leis", o "Tratado da Tolerância", o "Contrato Social" foram livros tão eminentemente políticos que nêles se inspiro~ a mais profunda transformação _institucional a que a Humanidade já assistiu. Porém, Montesqmeu, Voltaire e Rousseau exprimiam suas idéias em tal estilo que, antes, du– rante e depois da Revolução Francesa, aquelas obras adquiri– ram e mantiveram durabilidade, mesmo perante as gerações que há 300 anos julgavam impraticáveis ou perante aquelas que hoje entendem superados os rumos nelas sugeridos. - 287 -

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