Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ao Comitê Revolucionário do seu bairro. tsses interrogatórios costumavam ser o primeiro degráU da guilhotina: - - "Como te chamas ? - Morellet. - Que idade tens tu ? - Sessenta e oito anos. - Quais são teus meios de subsistência? - Uma mesada concedida pela Convenção, por 35 anos de trabalhos úteis. - E por que a Convenção julgou úteis os teus trabalhos ? - Porque nêles sempre defendi a liber– dade de consciência, de comércio e de expressão. - Que fazias em 89 ? - Presidia às sessões da Academia Francesa. - Onde estavas no 10 de Agôsto ? - No vale de Montmorency. - Por que estavas alegre antes do 10 de Agôsto e ficaste triste depois ? - Não estava alegre nem fiquei triste. Sendo quase septuagenário, acompanhei os acontecimentos como simples homem obediente à autoridade constituída. - Onde estavas no dia da morte elo tirano ? - Em París. - Não tens tu uma casa de campo? - Não. Em verdade, tenho uma abadia. - Ah ! Uma abadia. . . E quem te deu essa abadia ? - O Ministro Turgot, meu amigo durante 30 anos. - Bem, Turgot era um bom cidadão. O Comi– tê está satisfeito com tuas respostas. Podes te retirar sem remorso". O inquiridor queria dizer sem inquietação, mas o mo– mento não era de discutir palavras, mesmo para o Presidente da Academia Francesa . .. Em 1803, Napoleão restabeleceu a Academia como uma das classes do Instituto. Numa das primeiras eleições, foi esco– lhido Chateaubriand, seu mais ilustre adversário. Ao invés da romântica doçura que dêle se esperava, a posse seria um con– tundente ataque aos regicidas, alusão clara ao fuzilamento do Duque d'Enghien, do qual Talleyrand diria: - "Foi mais que um crime, foi um êrro". Censurado o discurso, recusou-se Chateaubriand a pronunciá-lo. Não se empossou, mas também pão- foi excluído, até que, exilado Napoleão, pôde enfim pene– trar na Academia. - 285 -

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