Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Boileau. O Rei preferia Boileau, porém, a Academia elegeu La Fontaine, cujos contos e fábulas fervilhavam de ironia contra o absolutismo. Luiz XIV recusou sancionar a escôlha. No ano seguinte, admitindo Boileau, os acadêmicos obtiveram, ao mesmo tempo, aprovação para os dois. . . Era uma transigência, na qual vencia o espírito independente, mesmo ao tempo do mais poderoso soberano de tôda história ocidental. No século xynI, essa garantia de liberdade explica a insistência com que buscavam a Academia os filósofos e enci– clopedistas que lançaram as bases da Revolução. Montesquieu foi admitido ainda sob o impacto das Cartas Persas, cheias de ímpeto reformador. O Cardeal Fleury, ministro de Luiz XV, opusera-se à eleição, mas terminara cedendo às explicações, mais convincentes que sinceras, daquele teimoso magistrado da Gasconha. Voltaire, durante 10 anos, candidatou-se três vezes. Quem já fôra encar~erado na Bastilha e exilado na Inglaterra necessitava urgentemente de proteção. Tinha a má vontade do clero e da côrte, alvos constantes da sua malícia incomparável. Mas Voltaire sabia que o caminho do sucesso junto a Luiz XV passava pelas alcôvas antes de atingir os salões. Fez-se amigo da Duquêsa de Châteauroux, favorita do Rei. A eleição parecia assegurado. Morre a Duquesa. "Paciência, diz Voltaire, minha salvação estará em outra favorita, já que a vida é curta para esperar por outro Rei". Sobe a Pompadour. Fazer-se querido, para Voltaire, era tão fácil quanto fazer-se odiado. A Marque– sa o estimou enquanto viveu. Assegurou-lhe a sanção do Rei para entrar na Academia, onde, ao lado de Montesquieu, tornou– se O abrigo da fina flôr revolucionária. Em pouco tempo, ali também ingressavam Buffon, D'Alembert, Condillac, Condorcet. Todos êles sob viva oposição das classes privilegiadas, cada vez mais impotentes ante a nova e irresistível fôrça da opinião popu– lar. O brando Luiz XVI não interferiu na Academia, mas seu irmão, o Conde de Provence, jurava dissolver aquela perigosa Assembléia, se algum acaso o transformasse em rei, juramento, aliás, que não cumpriu quando coroado como Luiz XVlll. Os tempos mudaram. A Revolução dissolveu a Academia, baseada no parecer de um dos seus membros - Chamfort _ célebre pela covardia que o levou, ao mesmo tempo, a conside– rar a instituição inútil, pelo que deveria ser extinta porém os seus membros respeitáveis, pelo que deveriam ser p~upados. Mas também nesses duros anos do Terror, teve a Academia de quem se orgulhecer. Ao último ~os . seus presidentes, Morellet, faltava brilho, porém, sobra~a. d1gmda_de. Os anais acadêmicos registram esta cena entre o trag1co e o pitoresco: - Em 94 pouco antes da queda de Robespierre, o velho presidente foi chamado - 284 - ,
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0