Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS entre os patronos desta Academia, figuram Gaspar Viana, Júlio Cesar Ribeiro de Souza, Felipe Patroni, suponho que a home– nagem se dirigiu ao pesquisador da leishmaniose, ao precursor da aviação e ao revolucionário da Independência. Agora mesmo, dentre os ocupantes atuais, Abelardo Conduru e Deodoro de Mendonça, meu pai, aqui devem ter chegado para neles reve– renciarmos essa vocação política a cujo exercício dedicaram meio século das suas existências, com tal desprendimento que delas apenas recolheram uma velhice limp-ª, tranquila e empo– brecida. Estavam, assim, superadas duas etapas da minha deci– são. A iniciativa era de fonte es·clarec-ida e pura. E havia lugar, no meio de vós, para quem pudesse compensar a pobreza da bagagem literária pela lisura na atividade profissional. Faltava– me alguma coisa. É que gostaria, neste primeiro encontro, de estabelecer métodos e rumos. Porém, ·não me atreveria a propô– los como se fôssem meus, apenas meus, sem amealhar na histó– ria das academias os precedentes capazes de incluí-los entre as suas inapagáveis tradições. Confesso, alegremente, que os localizei, mais repeti<;ios e mais profundos do que esperava. Julgo ser claro ao definir o processo como a garantia da liber- .dade na divergência e o objetivo como a rapidez no desenvol– vimento da comunidade. O contacto e o debate entre pontos de vista diferentes são corolários da heterogeneidade sob a qual se estruturaram e devem ser mantidas as academias de letras. Nisso consiste, talvez, a sua melhor tarefa. Nem sempre foi fácil. Para cumpri– la, vêm elas ape1ieiçoando lentamente a tolerância interna nos antagonismos e a resistência exterior às tiranias. O fato da Academia Francesa haver sido organizada pelo Cardeal de Richelieu pode ser invocado como uma brecha original nesses caracteres. Realmente, o respeito à liberdade individual jamais esteve entre as virtudes do áspero ministro que fêz de Luiz XIII o monarca mais absoluto da Europa. Parece mesmo indis– cutível o seu intuito de transformar o pequeno grupo de estu– diosos que se reunia em casa de Conrart numa entidade através da qual pudesse governar a língua e as letras, como já gover– nava a nobreza e o clero. Feição autoritária que se r efletiu nas primitivas regras de funcionamento e nas primeiras tarefas da Academia. Assim, o discurso de posse não se limitava ao elogio do predecessor, mas também, e obrigatoriamente, deveria louvar a Richelieu, a Séguier, ministro que concedera sede à instituição, e ao Rei, seu protetor. Durante todo o Antigo Re– gimem teve o monarca direito de veto sôbre os novos acadê– micos e não raro dêle abusou em benefício de medíocres corte- - 281 -
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