Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS a família, o Paissandu e o "velho Lemos". Embora não me lembre de havê-lo conhecido, foi pela primeira dessas dedica– ções que dêle tive notícia, ao tempo da revista "Novidade', e quando estive no Território do Amapá. Numa e noutro traba– lhou, como desenhista, Romeu Mariz Filho. Era um rapaz fran– zino, inteligente, boêmio e generoso. Para aquela revista fazia ilustrações todos os meses e muitos houve em que nada recebeu e nunca reclamou. Em Macapá, pintava os modestos cenários dos nossos teatrinhos escolares. Não levara a espôsa e os filhos. Tenho a impressão de que jamais lhes pôde remeter o suficien– te para se manterem. Isso não o afligia, "estavam bem, estavam com o velho Mariz". Na feitura destas notas, não falei aos seus filhos, todos fora de Belém. Mas do espôso de uma neta, ouvi informação que retrata o homem: - "Morei com êle quando nos casamos e ainda não podíamos manter casa própria. Depois foi êle quem morou conosco enquanto quis. Pela família era capaz de tudo, exceto de colaborar na educação dos netos. Postos êstes de castigo, logo se incumbia da vigilância, a fim de soltá-los pela janela do seu quarto . .. ". Do Paissandu foi "torcedor' apaixonado até 57, quando saíu do Pará. Já idoso, não ia mais ao campo.. Porém, acom– panhava os jogos colado ao rádio da varanda, conhecendo pelo nome e pela posição o time inteiro, irritado com o barulho das crianças em cujo vozerio se confundiam as carinhosas impre– cações daquêle outro menino, beirando os oitenta anos ae ida- de... . Ao "velho Lemos", finalmente, Romeu dedicou fideli– dade muçulmana. Transplantara-se para a Amazônia, no século passado, atraido por êsse foco de luz intensa que era O jornal de Antônio Lemos - "A Província do Pará". Nela subiu de articulista a diretor. Ou porque os embates políticos do seu líder assim o exigissem, ou por tendência temperamental, ou pelas duas coisas que se completavam no momento exato, Mariz foi, sobretudo, um panfletário. O modêlo pr~ferido pelos jorna– listas do Norte, no início dêste século, ainda não era Paulo Maranhão, que dentro em pouco iria demonstr~r como um es– tilo flamejante pode se conter numa impecável linguagem ca– miliana. Era João Brígido, do "Unitário". de Fortaleza, espon– tâneo, ferino, desordenado. Foi essa linha impiedosa que caracterizou aquela fase da "Província". Somente o sincero fa– natismo político explica êsse poeta, sensível e bom, arrastado às oolêmicas mais rudes e delas recolhendo, para o restante da vida, golpes que jamais cicatrizaram. Deposto o "velh_o Lemos", incendiada a "Província", vitorioso o "laurismo", exi– lado e afinal morto o chefe conservador - Romeu expiaria, com - 276 ....-

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