Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS ser chamado pelo impetuoso nordestino de mestre, mestre na difícil arte de viver: - "" ... desdobrava-se em mil Ataulfos, cartões de visita, flôres às damas, os batizados, os casamentos, olhos molhados em missa de sétimo dia, parabens a ministros, posses, dias felizes, quartos de defunto. . . Morreu debrnndo saudades, porque fez amigos eternos. E é aí que está a sua gran– deza: amigos que não eram pela sua inteligência, nem pelo seu dinheiro, que não os tinha para regalá-los. Amigos que os fez como bom oleiro, à custa de muito trabalhar o barro humano"". Minha dificuldade, todavia, é diferente. Não conheci An– tônio Marques de Carvalho, lembro-me vagamente de um ou · dois encontros com Eládio da Cruz de Lima e de nenhum com Romeu Mariz, a quem hoje sucedo nesta ·cadeira número quatro. Acresce que o discurso de Eládio, bem assim o de Misael Seixas, que o recebeu em _janeiro de 31~ não os consegui localizar. Mariz nada falou, ou pelo menos nada escreveu, ao ser em– possado em 46. A cadeira número quatro, portanto, está sem história. O depoimento ao meu alcance é precário, indireto, de– feituoso. Li quanto pude do pouco que deixaram. Recolhi im– pressões dos seus contemporâneos. Porém, nada supre o con– tácto direto quando se deseja evocar uma pessôa humana. A fisionomia, não a imobilizada pelo retrato, mas sim a colorida pelas emoções, o gesto, a conversa, os entusiasmos, as reservas, as antipatias e até os silêncios - tudo isso ninguém percebe através da informação ou da leitura. Meu esfôrço resultou assim, quase vazio, com um gôsto sêco de lição. ' * * * ANTôNIO MARQUES DE CARVALlIO parece haver sido homem tíoico da "belle époaue". Nasceu em 1867 e morreu em 1915. Paraense, de família rica, estudou em Portugal e na França, como era usual nos fins do século XIX. Foi compositor, pianista, poeta, crítico de arte, professor de francês. Na vida pública Oficial de Gabinete do Governador Justo Chermont e Cônsul' em Caiena, durante a questão do Amapá. Celibatário boêmio e viajante infatigável. Tinha predileção pelos versos d~ Bocage: escreveu. em Paris, um soneto em homenagem ao cons– trutor da Torre Eiffel, cuja fama se propunha espalhar pelos "quatro hemisférios". Esses . q;1atro he111;isférios. valeram-~e polêmica tão violenta que des1stm de pubhcar o ~v:o anunc!a– do. Juntos, os irmãos Marques de Carvalh?, Antonio e Joao, figuram entre os fundadores desta Academia, quando ela se or– ganizou em 1900 e quando r~apare:e~, na . segunda fase, em 1913. Pouco depois desaparecia Antonio. Dizem Manoel Loba- - 274

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