Revista da Academia Paraense de Letras 1964
LIBERDADE E ACADEMIA (Discurso de posse na Academia Paraense d'e Letra.sJ OTÁVIO MENDONÇA Os estatutos multisseculares· das Acadenúas de Letras exigem dos novos integrantes um estudo sôbre os patronos e antecessores. É norma que possui suas inconveniências e vir– tudes. Dela provêm algumas das mais resistentes antipatias que cercam os grêmios da mesma espécie. Dizia Voltaire, há du– zentos anos, que os Anais da Academia Francesa eram apenas sessenta volumes de cumprimentos. Porém, sendo a posse uma festa, não seria inoportuno destacar os aspectos negativos fa– talmente encontradiços na vida como na obra dos antigos ocu– pantes? Imaginemos a melancolia de uma solenidade na qual . o acadêmico se iniciasse discordando da escôlha do patrono; em seguida, criticaria .todos quantos o precederam na cadeira; final– mente, o incumbido de saudá-lo apontaria as lacunas de sua produção intelectual e as fraquezas da sua existência pública ou privada. Que espetáculo ! Quando se chama, entretanto, de elogio as referências devidas aos predecessores, isso jamais sig– nificou aplauso indiscriminado a tudo quanto tenham sido ou a tudo quanto tenham feito. Em cada pessôa é sempre possível distinguir algo de bom, ainda quando examinada por espírito antagônico. Há exemplos curiosíssimos de acadênúcos que, para o discurso de posse, esmiuçando uma personalidade combatida, nela descobriram ângulos adnúráveis, cujo inesperado realce puderam proclamar sem o menor constrangimento. Foi o caso de José Lins do Rego ao substituir Ataulfo de Paiva, precisa– mente o símbolo de tudo quando Zé Lins oborreêia. Chegara ao Supremo Tribunal sem ter sido um juiz sábio e à Academia sem nunca haver escrito uma crônica. Apesar do que mereceu - 273 - ·
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