Revista da Academia Paraense de Letras 1964

BRUNO, EM SUA GRACA NATIVA -3 GENESINO BRAGA Com os arminhos que laureiam a bela frónte cabocla, bronzeada de sol e de sínteses lúcidas, Bruno de Menezes passeia entre nós a fulgência estelar de seu espírito. ~sse homem cor– reto, preciso e harmonioso, que nos dá o pensamento e a sen– sibilidade da cultura paraense no encanto de seu intelectualismo ascendente e inteligível, - êsse homem é poeta e, para a poesia, trouxe a perfeição geométrica, a nitidez meridiana e a clarida– de solar no seu mundo interior. Pisando os chãos juncados de Ficus mortos da velha taba dos Manaus, para a qual o atraíram sons de borés e tantãs lon– gínquos da indiada irmã, em alegres potiruns de boa hospitali– dade, sua presença é uma festa e seu riso um contentamento para todos nós, irmão admirável pelo espírito e pelo coração, que êle o é, sempre a sorrir, entre um "trouvaille" boêmia e uma "boutade" cintilante, sua graça nativa afinada em talento e distinção. O poeta Bruno de Menezes veio assistir às dionisiac;as de nosso folclore. Prêso ao canto caboclo da terra e amando o sen– tido de estesia que apura a seiva sonora e verbal, requintada e bárbara, de suas manifestações exteriores, veio identificar as imagens de nossas lendas e de nossos usos nas cicatrizes de velhos troncos da vida amazônica. Como voz de revelação de seu meio e para as circunstâncias e os anseios de sua época, - que outro não é o destino dos poetas, - acarinha a volúpia de ser exato no reC:olbimento dessas vozes e dêsses costumes da terra e da gente patrícia, dentro da frágil perfectibilidade humana; mas, numa exatidão tôda feita de ansiedade, de veneràção e de respeito à tradição e de amôr às formas na sua simpliddade ou na sua violência, a despertar imagens novas e constantes da vida, de uma vida mais larga e mais plena, que só a poesia consente e enobrece. - 233 ·-

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