Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS durante vinte e quatro anos, e escreveu grande parte de sua obra e também onde morreu. O sonho da senhora Lúcia Miguel Pereira é um sonho com simbolismo manifestado, quase sem simbolismo latente es- pecialmente sexual. ' O simbolismo latente que podemos analisar nêsse sonho é de Machado de Assis, apresentar-se quase cégo. Ora, como sabemos, Machado er_a míope de larga data, portador de compli– cadas anomalias não corrigidas; astigmata, anisométropo e so– fria de neurastenia ocular. (La tragédia ocular de Machado de Assis-Hermínio Conde), Na vida inconsciente do sonho a senhora Lúcia Miguel Pereira gostaria que Machado de Assis não tivesse morrido com os seus sessenta e nove anos, e sim com mais idade. Por êsse motivo, é que viu o autor "Esau e Jacob", atravessando o leito da rua, nessa idade, um homem idoso, vestido de sobrecasaca preta, descarnado e sêco, apoiava– se a uma bengala para andar, e ainda assim a custo o fazia, com passo tateante, (o grifo é meu) . Justamente seria assim como foi visto em sonho, que Machado teria ficado, si tivesse vivido até oitenta e cinco ou noventa anos. Qual o motivo inconsciente da idéia que teve em ficar paralisada e deixá-lo ao mesmo tempo ter a idéia de paralisar, não seria o resultado do "Complexo de Constelação familiar", do "Complexo de Edipo feminino", ou "Complexo de Electra", influenciando nessa hesitação? Nós sabemos perfeitamente que Machado de Assis foi considerado mau enteado e ingrato, como diz a própria sonhadora, em seu livro, sôbre o autor de "Memórias Póstumas de Braz Cubas'.' - "Temendo talvez por Carolina em contacto com Maria Inês (madrasta) não guerendo _êle próprio, ter constantemente diante dos olhos êsse espectro de uma infância penosa, abandona a pobre mulata" (o grifo é meu). "Ingratidão que não desculpa o sentimento de inferio– ridade despertado p_êla lembrança da origem humilde e aque– la necessidade de se sentir integrado no ambiente, reação in– consciente contra a introversão que o leva a alheiar-se fàcil– mente dêle". . Foi êsse o motivo inconsciente do sonho, de pen– sar em deixá-lo no meio da rua, por que êle não haveria de gos– tar de ser criticado em sua vida íntima. f:sse Machaào de Assis visto em sonho, foi o Machado que a senhora Lúcia Miguel Pereira, gostaria de vê-lo, livre de seus complexos e recalques, um Machado que nada tivesse de Braz Cubas e muito menos do Conselheiro Alves. - 229 -
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