Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA A CADEM IA P ARAENSE DE LETRAS altura em que me achava pude percebê-lo ao longe. e não vinha rápido. Tive, porém, a presciência de que seria atropelido o ancião, e precipitei-!Ue em seu auxílio. Mas, no momento em que dêle me aproximava, uma idéia quase me paralisa: ( o gri– fo é meu) e se desconfiasse de quem eu era, e se me pedisse contas do que a seu· respeito escrevera? Que fazer? Abando· ná·lo não era possível, que fatalmente o alcançaria o carro; e não seria também possivel suportar-lhe a censura. Tomei-lhe então, da mão, mas esticando o braço para me afastar, baixan– do a cabeça virando. o rosto para o lado oposto, em silêncio o conduzí. Assim caminhamos até a outra calçada. Ele a inda– gar em voz débil, quem o ajudava; eu, a embuçar·me no mu– tismo, ardendo de vontade de conversar, engolindo perguntas, sopitando uma vaga veleidade de, apesar de tudo, me dar a conhecer. E, mal o vi em segurança, desatei a correr, sem me virar, sem mirar pela última v~ o vulto frágil e majestoso". Antes de analizar êsse sonho eu direi que não é cousa fácil analisar um sonho, sem a colaboração do analisado: à maioria se torna impossível. Mas, felizmente, o sonho da senhora Lú· eia Miguel Pereira é constituído de "conteúdo manifesto", não é um sonho de "conteúdo latente" como geralmente acontece nos de origem sexual. Gostaria também de dizer que não é comum sonhar-se com pessoas que se não conhecem, a não ser de nome ou fotografia. Os sonhos geralmente se realizam com criatura que conhecemos pessoalmente, ou apenas de vista. A menos que essas criaturas com quem sonhamos, apareçam mascaradas para poderem burlar a censura da válvula "super– égo". Geralmente isso acontece com pessoas a quem temos um ressentime~to houvesse pr~vocado um conflito psíquico. f; o caso do "Fenômeno da condensação" e da "substituição" nos sonhos de "conteúdo latente". Psicanaliticamente sendo o so– nho a realização de desejos - a senhora Lucia Miguel Pereira, possivelmente realizou um desejo, que se não poderia realizar na vida consciente, no entanto, tornou-se realidade, na vida in· consciente do sonho.. Conhecer pessoalmente Machado de Assis que belo! Corpo se deveria t:r senti_do feli~, e~ auxiliar O maior escritor da lmgua portuguesa. Diz a mteligente escritora: "UM breve encontro, no qual me senti possuída por emoções de– sencontradas, de admiração, de ternura, de piedade e de mêdo". Eu creio! porque eu também como um grande admirador de Machado de Assis teria sentido a mesma emoção. Mas infeliz· mente não tive essa grande felicidade, embora desejas~e, mes· mo em sonho. Laranjeiras foi justamente o local onde se realizou o sonho, por que era o bairro em que residiu Machado de Assis, - 228
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