Revista da Academia Paraense de Letras 1964
O discurso do Pre$idente: O INTELE'CTUAL DEVE SER LIVRE NA PLENITUDE DA Ll'BERDADE Ao assumir a Presidência da Academia Paraen– se de Letras, à noite de 3 de maio de 1964, o aca– dêmico J~bas Gonçalves Passarinho proferiu o se– guinte discurso : "Assumo, nesta data, a presidência da Academia Para– ense de Letras, d~vidamente atento para as responsabilidades que me caberão, em face da excepcional gravidade de que se re– veste o momento histórico brasileiro. Dir-se-á que as letras e as artes são imunes à contaminação política, mas não procede a afirmação. Haja vista a literatura comprometida, que se ca– racteriza pelo repúdio da arte pela arte e prega a necessidade de sua utilização urilcamente como instrumento de uma causa, mensagem de uma doutrina. É velha de séculos a disputa e não seríamos nós que acrescentaríamos algo de nôvo à. pendência entre puristas e não puristas. Não tendo a veleidade de solucionar a questão de– vemos ter, contudo,· a coragem das definições. Somos dos que acham que, no longo e penoso processo intelectual da pesqui– sa da Verdade é uni crime a limitação de qualquer ordem: po– lítica, filosófica ou religiosa. Quem quer qtie se consagre à in– vestigação cientüica, à erudição, à estética, à filosofia, à crítica, em suma, quem quer que faça a vida intelectual como atividade séria não pode falsear a verdade, mutilar o sentimento, sopitar a sensibilidade, para servir a uma causa política. O caráter do intelectual autêntico está, precisamente, em não subordinar a sua mensagem artística a nenhuma conveniência, de qualquer ordem, inclusive política. E a posição lúcida do povo que lê é lembrar-se de que o valor de um homem, num campo de - 195
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