Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS promisso imediato, enquanto o primeiro encara a mensagem como revelação das verdades eternas. Sem as ataduras atuais - c9menta - ambos acham que para o artista de nossos dias não há evasão possível, e assim sendo, diz Sartre: "Queremos que abarque estreitamente a sua época; é a sua oportunidade, sua época é feita para êle e êle para ela". Segundo ainda Sar– tre, cada época descobre um aspecto da condição humana e em cada mna delas o homem elege, frente a seus semelhantes, o amor, a morte e o ·mundo. , - No livro que hoje se premia procurei ser fiel a êstes princípios que considero sábios, ditados pela experiência de um dos maiores vultos literários de nosso século, pois que me ative a temas universais, dentro da realidade ecológica e da intera– ção dela resultante. i Crime ? Prostituição ? Vício ? - Mas se os temos em larga escala ! Males que se alastram entre tantos outros, fru– tos da miséria, da fome, da corrupção generalizada de que vimos sendo assolados - E o crime em geral (roubo, homicí– dio, subôrno, malversação, homossexualismo), escondê-lo? Por quê? - Teríamos que começar a partir da "belle époque", quei– mando as telas de Lautrec ou os romances de Emile Zolá. Isso para não falarmos nos grandes mestres da ficção ,universal de todos os tempos: Dostoievski, em "Os Demônios", "Recordação da Casa dos Mortos•,;- "Os Irmãos Karamazof" (Quereis por aca– so latrocínio mais frio, mais sinistra e belamente concebidq que o do estudante Raskolnikof em "Crime e Castigo"?). E Sten– dhal em "O Vermelho e o Negro" com o seu dissimulado Julien, fruto do jesuitismo então vigente ? E Gide em "Moedeiros Falsos" , onde o homossexualismo é tratado sob tão alta concep– ção artística? E Julien Green em "O Leviatã?" homicídio de– moníaco e brutal, mas nem por isso esteticamente menos toca– do. E William Faulkner em "Santuário", com aquêle repulsivo mas comovente Popeye ? - Entre nós, mui palpitantes, moder– nos e eternos: o Graciliano de "Angústia", do São Bernardo, das "Memórias do Cárcere"; o Adonias Filho de "Corpo Vivo", com um terrível homem-demônio-vingador, o Cajango de tantos massacres e vinditas; de "Memórias de Lázaro" ainda mais bár– baro e sombrio, na veemência de suas personagens meio bíbli– cas; ou êsse maior, êsse João Guimarães, Rosa mais viva de nos– sa literatura, com um monumental "Grande Sertão, veredas" em que o facies do cangaço, em sua épica brutalidade nos ê revelado da maneira mais trágica e ao mesmo tempo ~ais hu– mana e mais compreensiva! - E aí está outra face dos grandes vôos da literatura brasileira de nossos dias, para cuja beleza na plenitude de sua _libertação, é preciso ter os olhos límpidos: -. 191 -

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