Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS segundo H. Castagnino - a arte usa como trampolim de onde se lança à suá faina de criação: os problemas e paixões cardiais antes referidos. Da primeira vez que aqm estive ocupando eventu- ·a1mente esta tribuna - me propus perante os que me escuta– vam continuar a experiência do conto - se não no pressupos– to d 1 e lhe dar algum ·relêvo, pelo menos na certeza de chamar a atenção de valores outros para essa maravilhosa região da prosa de enrêdo, pràticamente sem representantes definidos no pálido cenário da literatura amazônida. - Se conseguirei ou não o futuro dirá, mas a promessa formal, essa pelo menos estã sendo cumprida. Ao contrário da primeira experiência, de heterogênea montagem, que foi "Histórias sôbre o vulgar", o livro que apre– sentarei em breve, motivo do prêmio que acabo de receber, já traz um esquema e fala essencialmente o idioma-imagem de motivos nossos, familiares; inspira-se na paisagem humana dos subúrbios belemenses, dos logradouros públicos da cidade, ou. das zonas ribeirinhas do interior do Estado, tentando revelar através da linguagem episódica ou da psi~ologia de seus com~ ponentes, o drama social do homem do povo em seus aspectos mais contundentes. A um olhar menos avisado, a um espírito não iniciado nas te~dências e ~álidos caminhos da, ~teratura universal pós romantismo, podera parecer que a tematxca de um livro adstri– ta a ângulos ~a. realidade nas humildes camadas do p~vo, não ' traga um proposito honesto de educar, revelando cirrunstâncias por vezes repugnantes às mentalidades sublimadas, que não dei~ xam entretanto_ de ser _reais, de_ constituírem problemas graves, diante gos quais a sociedade nao pode nem deve omitir-se. _ Distorcê-las ou ignorá-las seria uma falsidade, não só literá– ria como intelectual, tendo-se em conta que não existe propria– mente literatura for~ dos P:Oblem~s humanos: do homem, indi– víduo, em tôrno do qual gira a vida e para quem e por quem se faz literatura. - Em nosso caso especüico, ignorar condi– ções tais, sobr~tudo num momento ~istóric? em que se deseja moralizar o Pais, afastando-o de perigo maior: o da escraviza– ção generalizada, seria ab~u~do caminhar _pela s,uperfície, dei– xando .intocada a causa maxii:iia da erupçao: o subdesenvolvi– mento, o abandono a que foi relegado o homem do povo _ Isso seria querer curar uma dor estranha, um sintoma alarman– te à base de analgésicos ou estupefacientes. ', _ É ainda ~astagnino quem, analisando conceitos de literatura, situa Jullen Benda e Jean Paul Sartre como antípo– das. o último _ diz êle - postula a mensagem direta, 0 com- - 190-

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