Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS mento do neurótico angustiado, que anseia sem saber do que· espera sem saber o que está esperando; teme sem saber d~ que temer; ama e ~deia sem saber a quem; quer morrer e no entanto teme a morte ... O seu ódio inconsciente ao pai confirmando o "Com– plexo de Edipo", naturalmente que exacerbado pelo castigo qlJe lhe dera o pai 1 _ .ei:n ~e veda_r a matrícula na Academia, para se formar em Direito, profissão que êle pensava estar mais de acôrdo com a sua vocação literária. Em lhe haver mandado para o exílio e consentir em sua volta à pátria, so– mente depois que o filho adoecera, e êle enfermara mortal– mente; é que se deu a reconciliação do filho com o pai. Foi essa neurose de angústia, a causa de todo sofrimento de sua vida e de seus versos tormentados, cheirando à saudade e à morte que a humànidade aprecia tanto, por que nós somos "sádicos", e nos deleitamos com o sofrimento de nossos seme– lhantes. Eis o motivo porque Casimiro de Abreu, é o poeta mais lido no Brasil e em Portugal, como dizem os seus críticos; o poeta do belo sexo e dos jovens, e porque não dizer também dos velhos; por que faz recordar a nossa infância, e mocidade, na sua poesia: - "Meus oito anos". Para nós, a sua tragédia se resume: na fixação do amor materno, no ódio inconsciente ao pai, e na reconci~ação _d~ filho, n~ hora _da morte. _ E êsse impulso inconsciente de od10 ao pai, deseJando-lhe a morte, e que Casimiro de Abreu não pôde fugir, porque o "Ego" sen– do escravo de dois amos, "Ego" consciente, recebendo ordens do "Super-Ego", para reconcil~ar-se a pai,_e do "Id", para odiá– lo, e desejar-lhe a morte, po1~ era seu _rival, no amor de sua mãe. É êsse impulso inconsciente, repito, que o vemos con– fessar numa das suas lindas poesias que é A MORTE: Meu Deus ! tu que és tão bom e tão clemente, P'ra que apagas, Senhor, a chama ardente num crânio do [vulcão? P'ra que poupas o cedro já vetusto. E, .sem dó, vais ferir o pobre arbusto As vezes no embrião ? Psicoanalisando o simbolismo dêsse conflito inconscien– te em que o poeta, já se sentindo enfêrmo pela tuberculose q~e minava os seus .Pulmões, com frequentes hemoptises . ve– mos que Casimiro de Abreu clamava a Deus a troca da vida de seu pai, "cedro já vetusto", pela sua vida, pela sua mocidade, - 185 -

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