Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS tou quando menino, e que representa o próprio símbolo do "ato poético", ou melhor, símbolo de sua mãe, representada pela poesia. E como O simbolismo da árvore representa a "força da raça" e esta força a afirmação de si mesmo, aparece em certa região do inconsciente, como pecado original, ou "Culpa Edí– pica", O pecado é, pois, justamente o "Edipo" que se apre– senta nêsse poeta, com excepcional intensidade, C0!]10 prova o seu rompimento contra o pai". . A m e 1 a n c o 1 i a e a solidão de Casimiro de Abreu representam em primeiro lugar, a "evocação' daquela época feliz, de sua infância, que rememora, com absoluta au– sência de conflitos : Isto acontece, quando por causa de um fator qualquer de perturbação, a criança vê desbaratada sua tranquilidade, e sente a nova realidade como uma dolorosa in– terrupção de sua situação "indílica", que é o caso do nosso poeta. Porque, nesta primitiva situação infantil, não existe uma retração, um divórcio do mundo, senão uma limitação do mespio. Não existe neste mundo, nem uma noção do mundo e nem uma verdadeira noção de seu próprio "Eu", ou seja de sua verdadeira personalidade. · "O que existe, subjectivamente, é um mundo de satis- fação dos impulsos prim~rios,, e um mt!ndo absolutamente igno– rado que se este~de .mru_s alem do "circulo edênié'o", em que os 1?-aiores confli~os e~tao. traçados em ~edor da criança. A realid~d_e que e.~ta mais _distante deste circulo não é negada, mas e ignorada . . . É Justamente essa melancolia e solidão um reflexo dêsse conflito inconsciente, de reviver a sua vid~ infantil e de voltar ao ventre materno, que fêz Casimiro de Abreu escrever a sua obra prima nessa belíssima poesia que é - "MEUS OITO ANOS" : Oh! que saudades que tenho. Da aurora da minha vida. Da minha infância querida. Que os anos ..não trazem mais !. . Que amor, que sonhos, que flôres. N'aquelas tardes fagueiras, A sombra das bananeiras, Debaixo dos ·1aranjais ! Oh! dias da minha infância ! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era.

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