Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Em. Roma, curtindo frio intenso, explode nêle a com– ponente telúrica do amazônida, a lembrar a braza dos tró– picos: "Como êsse vento outonal que passa sôbre as árvores, Desnudando-as, Assim passa por mim o vendaval da Vida. Ontem, tudo era verde, a sorrir na colheita fecunda, Primeiro as flores, Depois os frutos, Agora. . . sopram ventos gelados do Ocidente ! Por que razão, ó Senhor, fazes murchar as flores ? Que mistério se esconde no embrião E na luz que se apaga no momento final ? Sol ! Quero o Sol rubro e grandioso, Quero a aurora perene, imorredoura, A iluminar os campos e os trigais. Lá fora, as árvores, coitadas!, choram saudades estivais. Há plátanos tristonhos, Pinheiros sepulcrais.. A natureza esconde a sua mágoa, regelada. Venha o gêlo hibernal e o vento que lacera Eu os receberei · Com as mãos em brasa, O coração em brasa, A alma em brasa". Em Salinas, diante do mar,.. começa um soneto : "Este céu tão tranquilo, esta água parada, Este vento a cantar com estranha harmonia, A gemer, a chorar, a uivar noite e dia. E esta praia sem fim, deserta, abandonada". Tudo isso me causa angústia e nostalgia ... Súbito, alvoroçaram-no as reminiscências da infância re– cuada, e grita nos seus versos a fôrça atávica dos nordestinos de quem descende, pelo pai, antes de jurista poeta, de quem o filho herdou, sem dúvida, a sensibilidade : "Quero voltar às minhas origens. Quero! As origens seculares e puras do sertão. Bravas e austeras". -17-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0