Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Como é poética e bela a quadra da infância ! E que saudades, que fundas saudades não temos dêsse tempo, quando a nossa alma cheia de decepções e despoeti– sada pelas misérias da vida se recorda melancolicamente do passado ! Pelo menos a mim aconteceu-me isso; Tôda a vez que me lembro dos meus dias de criança, estremeço e sinto que uma lágrima se desfia ·silenciosa pela face. . .. ( o grifo é nos– so). Por isso eu gosto de chorar, e aprazme as vezes, quando estou sozinho Mergulhar o pensamento nêsse passado que já va~, vai tão longe, e pelo poder da imaginação vejo, sinto e gozo tudo que vi, senti e gozei, nessa idade d~ risos e de amô– res - Minha querida infância! ( o grifo é nosso). Em seu poema "Saudades" também encontramos, êsse mesmo simbo– lismo, de regresso à terra e de "egocentrismo", para viver em solidão - "Então, proscripto e sozinho. Eu solto aos écos da serra. Suspiro dessa saudade. Que no peito ·se encerra, lsses prantos cheios de dôres. Saudades - · dos seus amôres, Saudades - da minha terra ! O regresso ao passado sabemos, uma reação que geral– mente deve influir entre as condições do estado estético, que rara vez se manifesta com tanta clareza e com tanta ingenui– dade como aqui, nestes poemas. "O poeta procura no seu passado um refugio contra os ultrajes do presente". Em seu poema - "Canção do Exí– lio" - sente-se a nostalgia e a sua angústia, em voltar à terra onde nasceu, e revíver o passado, quando nos diz - "Dâ-me os sítios ~entís onde eu brincava lá na quadra infantil. Dâ que eu veja uma vez o céu da pâtria, Se eu tenflo de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja jâ; Eu quero ouvir na laranjeira à tarde, Cantar o sabiá ! A virgem loura, que o poeta procurava; e, que êle mes– mo respondeu ser a poesia não era mais do que a imagem de sua mãe, fixada no seu inconsciente, formando o "Complexo de Edipo', simbolizado na árvore de "laranjeira", que êle plan- - 181
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