Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS te o amor das mulheres, desprezando-as, fisicamente, insultan– do-as e desejando-lhes a morte. Mas, inconscientemente, de– vido à fixação materna, no mecanismo inconsciente do "Com– plexo de Edipo". Esse mesmo conflito, Gondim da Fonseca, encontrou quando psicoanalisando a obra de "Camilo Compre– endido" - disse: "Se as fantasias o furtavam às mulheres, se– riam forçosamente, no seu extrato inconsciente, de natureza erótica, e de caráter homosexual. Essa decepção da mulher, confessa-o sem o sentir ao descrever suas impressões da na– tureza.. . Ele vê a natureza sexualizada como mulher ( o grifo é nosso) - "A natureza maviosissima espôsa de Deus "(A doi– da do Candal - Camilo Castelo Branco). Num dos versos de Casimiro de Abreu encontramos es– tas expressões escritas inconscientemente pelo autor, com êsse mesmo sentido de "sexualização da natureza": - "Quero amor! quero vida! aqui na sombra. No silêncio e na voz desta natura. Caso co'as tif)res da estação ma~s pura. ( o grifo é nosso). Oh! como noiva enfeita.da para o seu noivado ! És linda minha terra d'alma". Já de volta do exílio, em seu lar, recordando a planta– ção de uma laranjeira que fizera quando menino, no quintal de sua casa sente-se a tortura do poeta, em querer voltar à vida de criança, quando disse: - "Eu me remoço recordando a infância. E tanto a vida me palpita agora. Que eu dera, oh! Deus! a mocidade inteira. Por um só dia! do viver d'outr'ora ! E ali. . . n'aquele canto. . . o berço annado ! :E: minha mana, tão gentil dormindo ! E mamãe a contar-me histórias lindas. Quando eu chorava e a beijava rindo! (No lar). êasimiro de Abreu era muito criança quando plantou a sua primeira árvore, a tão falada laranjeira; possuía mais ou menos 6 anos de idade. A vida do nosso poeta da infância fêz-me recordar, nes– te momento, a vida de um torturado, jovem poeta francês Henri Mougnier, nascido em 1890, de família francesa, muito pobre, viveu em Genebra. Aos vinte anos por ser também portador do "Complexo de Edipo", desentendeu-se com seu pai; e em 1920 exilou para o Brasil, para tentar fortuna. Che– gando ao nosso Pais, encontrou amargas decepções e desilu- - 179 -

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