Revista da Academia Paraense de Letras 1964

) REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ' dia de setembro abafando o grito de lamentos de minha voca,. ção contrariada, ( o grifo é nosso ), fui sentar-me à carteira, dum escritório e embrenhei-me no mundo dos algarismos! abracei a vida comercial, essa vida prosaica que absorve todas as facul– dades num único pensamento, o dinheiro, e que se não debi– lita o corpo, pelo menos enfraquece e mata a inteligência. Fatal dia! negra hora". "Desde então fugiu-me a - Virgem Loura - e debalde a tenho procurado ao clarão da lua, na luz d_as es– trêlas, nas ondas do mar, nas flôres do prado, em tudo; nunca mais a vi! Hoje a minha alma árida e triste de tanto sonho dourado e de tanta ilusão brilhante, só tem lágrimas para cho– rar êsses belos dias em que ELA (o grifo é nosso), me "dizia os seus segredos divinos. Ai de mim! parece-me que ouço uma voz paúsada e fria · murmurar estas palavras de gêlo: Nunca mais hás de encontrá-la! - Mas. quem era - Virgem Loura ? - A de olhos azuis ? -Sim. - Aquela que eu amava ? -Sim. - Pois não adivinharam ? . . . era a poesia. Mas meus leitores, desculpem-me a audácia, por ·que eu vou desmentir Casimiro de Abreu, ou melhor, não sou eu quem vai desmentí-lo, desmascará-lo; é a própria Psicoanálise. Essa virgem Loura, de que fala o poeta, não era a Poesia e sim sua MÃE. · A mãe do poeta que êle tanto amou em sua vida. Um amor diferente dos filhos normais, um amor incestuoso! . . . :ttsse .amor sim, que sempre viveu recalcado em seu insconsci– ente, e foi o maior tormento de tôda sua vida; é, quP.l a Psicoa– nálise analisando a sua obra, nas suas poesias e prosas. vai tra– duzi-la nos "atos falhados" de seus versos, porque êstes, fo– ram o seu verdadeiro confissionário, e a tinta que derramava de sua pena, as suas indulgências. Em tôda sua obra poética, encontra-se traços dos re– calques de sua vida infantil, no amor à terra, ao país, ao lar; provas sobejamente certas, de seu incesto ou de seu "Comple– xo de Edipo" inconsciente. O seu desejo ao regresso para a vida infantil, o seu amor à arvore que plantou quando meni– no a sãudade da casa velha, onde nasceu e viveu a sua ·me– ni~ice, são provas incontestáveis de sua fixação materna. "Podes ler o hvro: - "Adoro a infância" (o grifo é nos– so) . Não amo a terra do exílio; (Portugal) . Sou bom filho; "Quero a pátria, o meu país; 177 -

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