Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS légio Freese", até a idade de quinze anos, não terminando seus estudos, empregou-se na casa comercial de seu pai, no Rio de Janeiro. "Contra sua vontade, para não desgostar o pai, em– brenhou-se na ' matemátjca c'omercial". "Desgostoso por ter sido contrariado em suas inclinações poéticas e literárias, seu pai, talvez para afastá-lo do meio em que vivia ou para pro– curar novos ares para sua abalada saúde, fê-lo embarcar para Portugal, partindo no dia 13 de novembro de 1853, do Rio de Janeiro, no vapor "Olinda". Como- observamos, pela própria confissão de Casimiro de Abreu, êle foi vítima de um desajus– te profissional; seu pai queria que seguisse a carreira comer– cial, a "contabilidade", e no entanto êle sentia pendor voca– cional para· as letras e a literatura. Daí, naturalmente a causa de sua "neurose de angústia", que lhe martirizou tôda sua vida, e que nós sentimos em suas poesias. Essa falta de ambientação profissional provocada por êrro na escolha de sua profissão, em. não seguir a sua ve!dadeira vocação; foi Casimiro um desajus– tado e um desordenado na sua vida acadêmica. A sua falta de vocação para seguir a·carreira comercial imposta pelo pai, natu– ralmente um portador de "Complexo de Edipo", como era Casimiro de Abreu, foi a causa dêsse conflito anímico de an– gustia" e ambivalencia". Nós sabemos perfeitamente, caros leitores, que a Psi– coanálise, nos mostra que um desajuste de profissão,. por fal– ta de vocação, pode ser a causa de conflitos psíquicos e dese– quilibrios mentais. Nossa literatura está cheia dêsses proble– mas tão complexos, de homens com vocação para literatura, enfim para viverem das letras, e no entanto, seguem profis– sões diferentes, sofrendo as consequências dêsses desajustes, como Euclides àa C!,lnha, Machado de Assis e tantos outros. As suas poesias: "Arijo, Horas tristes, Sonhando, Noivado, Pe– pita e Moreninha", são brilhantes pro~a~ da terrível luta em que deviam encontrar-se travados o gemo do poeta e O espí– rito do "caixeiro", ou seja a lut~ inconsciente da sua vocação para as letras contra a ~ontade 1mp?st~ por seu pai, a fim de que êle seguisse a carreira do comercio. Sentimos em Casimiro, o poeta da infância, o vate mais perseguido pelo recalque _de sua vida, infantil,_o ódio contra a atitude de seu pai, em nao qu~rer ve:lo seguu: a sua voc~ção que era a literatura - a poesia. E esse sentimento de odio, talvez inconsciente, êle deixou transvasar do seu inconscien– te burlando a válvula "Super-ego", num dêsses muitos mo– m~ntos de nostalgia e melancolia, de que sof~ia o poeta,.quan– do disse: "Foi num dia. . . lembro-me perfeitamente foi num - 176 -

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