Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Para quem sabe o que é a edição de livros no Brasil, sobretudo depois que se extinguiu o câmbio de favor para o papel, basta salientar que tôdas as despesas com o livro de Síl– vio ocorrerão por conta de Max Limonad, o que é o maior elo– gio e a mais alta prova de confiança que um editor pode con– ceder, sobretudo a um professor de província. Uma editora carioca interessou-se pelos originais de ou– tra obra de vulto e erudição: "História e Fontes de Direito Ro- mano". · Está, pois, SfLVIO MEIRA plenamente realizado nas le– tras jurídicas e consagrado como um dos maiores romanistas do Brasil. O POETA tle que lê e escreve o alemão, está fazendo, ern. versos, •a tradução do Fausto, de Goethe. Pode soar surpreendentemente, para muitos, a referên– cia a versos, feita a um homem que, pela fôrça da profissão e de suas conotações, deve supor-se frio e visceralmente pragmá– tico. Enganam-se os que vêem em StLVIO MEIRA apenas o advogado famoso, preocupado com os arrazoados, mergulhan– do fundo nos meandros das leis a buscar argumentos para me– lhor convencer o juiz do feito. Nêle existe um poeta, que se revela quase a mêdo, num misto de humildade e consfrangimenio. Confessa, em diálogo íntimo, que o que sempre foi, o que tem sido às escondidas por tôda a vida é precisamente o poeta, a rabiscar versos inopina– damente, no escritório, em casa, no avião, na rua, comovido com o passar da imagem da Virgem de Nazaré, extasiado dian– te da beleza histórica do Parnasso, maravilhado pelos céus da Espanha, pelo azul do mar no Estoril, ou tocado pela infinita grandeza dos nonadas da vida diária. Explica Sílvio, em auto-confissão até aqui inédita : "Faço poesia como canta o pássaro, Que espontâneo desperta com o seu canto A natureza em flor. Como as águas que marulham descuidosas, Esquecidas do mundo ... Nos meus versos há écos do Infinito". -16-
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