Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRP-S O poderoso da terra, que acumulou tesouros e desfruta impunemente a comodidade da vida, crê dormir tranquilamen– te, porque não tem de pensar no dia de amanhã: os seus bens, incontáveis, lhe asseguram confôrto para o resto da vida. Mas no fundo dessa tranquilidade, feita de confiança em notas de papel ou em cofres banc'ários, existe o vago pressentimento, o subtil arreceio, a lábil intuição de que um- dia tudo aquilo pare– cerá, o tesouro roído pela traça, o corpo roído pelos vermes. E êsses abantesma é suficiente para destruir-lhe a paz. A tranqui– lidade do burguês é um arremêdo de paz, mas não é paz. O Homem, quando encara a vida com sinceridade e faz um exame de consciência sôbre si mesmo, conclui por ceitar que a razão de ser de sua existência está Tora do seu sêr. Ao Homem autêntico, nada do que é terreno e perecível lhe satisfaz. ~le anseia por algo que não tenha fim. E - quiçá - nem mesmo comêço. Luta por atingir o inatingível, pois tôdas as vêzes que êle atinge o que deseja, transfere imediatamente para outro de– sejo o polo de suas atividades e de suas cogitações. E a felicida– de que busca, jamais está onde êle está. Diante dêsse patético enigma, o homem comum desespe– ra, o cristão espera. Porque entre o homem e o cristão vai a dis– tância que separa o finito do infinito. O homem comum deve im– pacientar-se e desesperar-se, porque sua vida terminará na se– pultura e, para êle, o além-túmulo é uma expressão vazia, ou não comporta outra coisa senão o prolongamento, em outro ' plano, de suas aflições e frustações. O cristão pode esperar, porque nêle fulgura um raio de eternidade e esta desafia o tempo e as alternativas do tempo. A história da esperança começou, há séculos, quando o Homem, perdendo a integridade primeva, principiou a buscá-la através dos caminhos da civilização, com a idéia de que um dia Deus mandaria Aquêle que devia vir, para restituir-lhe o paraí– so perdido. Cristo veio e a esperança do mundo se iluminou numa estrêla, a c:uja luz Reis do Oriente traçaram, para tôdas as demais criaturas a estrada da esperança. Resta-nos, a cada um de nós, percorrê-la no íntimo de nossos corações. Quando a esperança do Homem chega a seu têrmo então na posse do objeto q~ seduziu essa esperança, êle enc~ntra a paz ab~oluta e u!11a inf~nita felicid_ade. E sua vida adquire tôda a plemtude do ser. Porem, outrossim, a esperança não tem mais - 171 -
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