Revista da Academia Paraense de Letras 1964
DA ESPERANÇA Acadêmico ÁPIO CAMPOS A ESPERANÇA É UMA virtude eminentemente humana, porque o seu mais alto sentido é a limitação de nossa natureza. Os seres antológicamente ocmpletos não podem esperar. Espe– ram aquêles que ainda não receberam tudo e, sentindo a iniludí– vel necessidade de uma completação, põem a razão de ser daqui– lo que são, naquilo que ainda poderão s~r. Deus, portanto, e os anjos, não têm esperança. - Esperar é saber-se incompleto, imperfeito, sem integrida– de. Não só, é - mais ainda - conhecer que a razão fundamen– tal de si mesmo não está dentro de si, mas fora, alhures, em qualquer ponto do universo. E a esperança é o ímpeto que nos· impele para êsse têrmo desconhecido, misterioso, distante e - muitas vêzes - inalcançado. É, pois, a esperança que transforma a vida humana numa busca constante, numa procura irrequieta, numa audaz peregrinação empós ideais inatingidos e desejos in– satisfeitos. É pr prio do homem não satisfazer-se com o que possui e com o que é, porque sómente, o medíocre, isto é, aquê– le que perdeu o sentido da vida plena, é capaz de ctmtentar-se com tão pouco. A esperança é irmã da ~bição e sem uma e outra não pode a vida humana chamar-se vida. Os seres irracionais, embora não sejam inicialmente per– feitos, não podem ter esperança, po:rque a esperança é uma vir– tude e exige consciência; ela representa a fé no invisível no intocável, impalpável, e os seres irracionais não são capaze~ de tal. A p~anta e o animal esperam tàmbém ~les, porque não nascem ~nte~os, dev~m sofrer ul!1 de~envolv1rnento paulatino, uma cult1vaçao gra~ativa, um pars1momoso crescimento _ para chegarem a ser aqmlo que devem ser-e atingirem o seu clirnax. - 169 -
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